"Penina" é uma canção que Paul McCartney escreveu no Algarve, em Portugal, no final de 1968, quando esteve de férias no Ano Novo com Linda McCartney no sul do país.
Ao contrário do que se julga e do que está publicado em muitos livros e editado em alguns discos, a canção foi escrita para o grupo português Jotta Herre e não para Carlos Mendes, vocalista dos Sheiks, considerados os "Beatles portugueses".
Os Jotta Herre editaram a canção num EP Philips 431923PE, com mais três canções originais da banda. Carlos Mendes também editou a canção, sendo esta a que aparece no célebre álbum "The Songs Lennon And McCartney Gave Away - By The Original Artists" (EMI NUT18, 1979).
Infelizmente, nenhuma das edições portuguesas de "Penina" inclui a data da respectiva edição, não se sabendo com certeza absoluta quem editou primeiro, se os Jotta Herre, se Carlos Mendes. São ambas de 1969, mas este é ainda um ponto em investigação. Uma coisa é certa, porém: Paul McCartney escreveu a canção para os Jotta Herre e não para Carlos Mendes.
O próprio Paul McCartney conta parcialmente a história de "Penina" no fanzine do antigo clube de fãs de McCartney, Club Sandwich:
"Fui a Portugal de férias e uma noite, quando regressava ao hotel, já alegrote, resolvi tomar mais uns copos ao bar. Estava um grupo a tocar e eu acabei por ir parar à bateria. O hotel chamava-se Penina e improvisei ali uma canção sobre esse nome. Alguém me perguntou se podia ficar com ela e eu dei-lha. Nunca pensei em gravá-la eu próprio".
Na contracapa do álbum The Songs Lennon And McCartney Gave Away, escreve Tony Barrow, então assessor de imprensa dos Beatles, sobre "Penina" e Carlos Mendes: "a mais obscura canção do álbum é uma gravação de 1969 de Carlos Mendes, "Penina", que, acredito, tenha sido dada a Carlos por Paul quando esteve de férias em Portugal".
Isto não é porém exacto como o próprio Paul McCartney escreveu no Club Sandwich. A canção foi dada aos Jotta Herre e não a Carlos Mendes. Os Jotta Herre eram um grupo da cidade do Porto, no norte de Portugal, que tocava no Hotel Penina, no Algarve, perto de Portimão. Por mais incrível que pareça o Hotel, de luxo, e um dos mais famosos de Portugal, ainda hoje não tem nas suas paredes uma qualquer placa a assinalar o gesto de Paul McCartney. Seria bom para o seu turismo.
Os Jotta Herre ("jotta" de Jaime, que se desligou do grupo, e "herre" de Rui) eram formados por Aníbal Cunha, hoje empresário exportador no sector cerâmico, Rui Pereira, falecido em 1972, Carlos Pinto, hoje presidente da Sony Music em Portugal, e Giuseppe Flaminio, hoje representante da Universal Music na cidade do Porto.
Conta Giuseppe: "naquela noite, juntámo-nos todos à volta de Paul e de Linda, bebemos um copo e então ele propôs: vamos tocar. Passava da uma hora da manhã e o Paul deu um show inesquecível. Tocou sucessivamente piano, baixo, guitarra e bateria. Tocou bateria como eu nunca tinha visto um músico tocar".
"Cada vez entrava mais gente na sala. Paul voltou à bateria e pediu "one minute". Começou a cantarolar e desafiou a malta para tentar acompanhar a sequência harmónica que estava a sair. Eram 4 horas da madrugada e, logo ali, compôs e cantou a música e a letra da canção que nos ofereceu. No fim, pôs-lhe um título, o nome do hotel".
No regresso a Londres, dois dias depois, Paul McCartney teve problemas por ter composto "Penina" e oferecido ao grupo português. Os jornais ingleses falaram disso e a Northern Songs levantou dificuldades à gravação da canção. Estavam em jogo milhares de libras.
Hoje em dia, a canção está registada na Sociedade Portuguesa de Autores como sendo da autoria de Lennon/McCartney. Tudo por causa das libras e do acordo entre os dois Beatles quanto à composição de canções.
Embora Paul McCartney tenha afirmado que não gravaria "Penina" ela aparece gravada pelos Beatles no CD pirata Unheard Melodies, The Songs The Beatles Gave Away, juntamente com as versões dos Jotta Herre e de Carlos Mendes.
Por Luís Pinheiro de Almeida
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