quarta-feira, 5 de outubro de 2016

13 razões para respeitar Ringo Starr

Ringo Starr, o mais sortudo “sem-talento” do mundo. Tudo o que ele tinha que fazer era sorrir e abanar a cabeça. E claro, manter o ritmo para três dos mais talentosos músicos e compositores deste século. Que outra impressão poderia alguém ter ao avaliar o papel que Ringo desempenhava no sucesso dos Beatles? Será que Ringo conseguia fazer a diferença? Ao ouvir o último lançamento dos Beatles, “The Beatles Anthology”, tem-se a oportunidade de ouvir tocar Pete Best e outros dois bateristas, em mais de 20 temas. Será que Ringo estava simplesmente no lugar certo, à hora certa? Os itens que se seguem poderão, eventualmente, ajudar a clarificar a situação.

Ringo foi o primeiro verdadeiro baterista rock a ser visto na TV. Todos os bateristas de Rock & Roll que se apresentavam com Elvis, Bill Haley, Little Richard, Fats Domino e Jerry Lee Lewis eram sobretudo bateristas de R&B (Rhythm & Blues) que tentavam fazer a transição de um estilo swing, próprio das décadas de 40 e 50, para um estilo mais pujante, associado a “I Want To Hold Your Hand”. Apresentavam-se de terno e gravata segurando as baquetas numa forma “tradicional” familiar a bateristas militares, de orquestras ligeiras e de jazz. Ringo mostrou ao mundo que era preciso força para por enfâse na palavra “rock” do estilo Rock & Roll. Assim, ele agarrou as suas baquetas como se fossem martelos construindo dessa forma uma das fundações primordiais da música rock.

Ringo alterou o modo como os bateristas seguravam as baquetas, tornando popular o modo “matched”. Quase todos os bateristas anteriores a Ringo seguravam as baquetas de uma forma “tradicional”, segurando a baqueta esquerda como se de um “pauzinho chinês” se tratasse. Essa forma “tradicional” foi fomentada pelos bateristas militares que, com o tambor a tiracolo, necessitavam segurar as baquetas de uma forma que lhes fosse permitido tocar. A forma implementada por Ringo altera por completo essa forma primitiva, equiparando mãos esquerda e direita.

Ringo iniciou uma tendência de colocar os bateristas em estrados elevados de forma a torná-los tão visíveis como os restantes músicos. Quando Ringo apareceu no Ed Sullivan Show, em 1964, ele captou de imediato a atenção de milhares de futuros bateristas ao apresentar-se acima dos outros três Beatles. Ao invés disso, o baterista de Elvis só via as costas dos seus companheiros.

Esses futuros bateristas tiveram também oportunidade de reparar que Ringo tocava numa bateria Ludwig, fato que os levou a correr para as lojas em busca deste tipo de instrumento, estabelecendo a Ludwig como um nome emblemático no panorama das baterias da época.

Ringo alterou o som da bateria nas gravações. Ao tempo de Rubber Soul (lançado em 6 de Dezembro de 1965) o som da bateria começou a tornar-se mais distinto. Contando com a preciosa colaboração dos engenheiros de som dos estúdios EMI em Abbey Road, Ringo popularizou um novo som da bateria afinando-a num tom mais baixo, abafando o som e fazendo com que soasse mais perto, através da colocação de microfones em cada peça.

Ringo tem um ritmo quase perfeito. Esse fato permitiu aos Beatles gravar uma música 50 ou 60 vezes e depois editá-la por composição das melhores partes, por forma a alcançar a melhor versão possível. Hoje em dia é usado um metrônomo eletrônico para esse mesmo propósito, mas naquela época os Beatles tiveram que depender de Ringo para manter a consistência da batida através de dezenas de takes. Se ele não possuísse este dom as, gravações dos Beatles soariam, por certo, de forma diametralmente diferente.

O feeling de Ringo pela batida serviu de norma tanto para produtores como para bateristas. É relaxado mas nunca desleixado. Sólido mas, ainda assim, sempre solto. E sim, existe uma grande dose de bom gosto musical nas suas decisões do que e quando tocar. Na maior parte das sessões de gravação a atuação do baterista funciona como barômetro do resto dos músicos. A direção artística, dinâmica e emoções são filtradas através do baterista. Se o baterista não se sente bem a atuação dos restantes músicos está condicionada à partida. Os Beatles nunca, ou raramente, tiveram esse problema com Ringo.

Ringo detestava solos de bateria, o que deverá fazer com que ganhe pontos junto de algumas pessoas. Apenas fez um solo com os Beatles. Esse solo aconteceu durante o tema “The End” no lado B de “Abbey Road”. Alguns podem dizer que esse solo não é grande mostra de virtuosismo técnico, no entanto estarão pelo menos parcialmente incorretos. Quem quiser pode colocar um metrônomo, configurado para marcar 126 batidas por minuto, lado a lado com o solo de Ringo e verão que os dois permanecerão exatamente juntos.

A capacidade de Ringo para tocar em compassos invulgares empurrou a escrita de temas musicais para áreas nunca antes alcançadas. Dois exemplos disso são “All You Need Is Love” em 7/4 e “Here Comes The Sun” com passagens repetidas em 11/8, 4/4 e 7/8, no coro.

A habilidade de Ringo para tocar os mais variados estilos musicais como swing (“When I’m Sixty-Four”), baladas (“Something”), R&B (“Leave My Kitten All Alone” e “Taxman”) e country (quase todo o álbum Rubber Soul) ajudou os Beatles a enveredar por diferentes direções musicais sem esforço maior. A sua experiência anterior aos Beatles, como músico de nightclubs serviu-o bem.

A ideia de que Ringo era um sortudo no lugar certo é completamente errada. De fato, quando o produtor George Martin se mostrou descontente com a atuação do baterista original, Pete Best, Paul, John e George decidiram contratar aquele que eles consideravam o melhor baterista de Liverpool – Ringo Starr. A sua personalidade foi um bônus.

Os rumores de que Ringo não tocou em muitos dos temas do Beatles por não ser suficientemente bom é também radicalmente falsa. De fato, ele tocou em quase todos os temas dos Beatles que incluem bateria à exceção dos seguintes: “Back In The USSR” e “Dear Prudence”, em que Paul toca bateria pelo afastamento temporário de Ringo, por problemas de saúde. “The Ballad Of John And Yoko”, com Paul mais uma vez na bateria, porque Ringo estava a gravar um filme. E também na versão de 1962 de “Love Me Do” que contou com o baterista Andy White.

Quando os Beatles se separaram e tentavam cada um por si afirmar-se a solo, John Lennon escolheu Ringo para tocar bateria no seu primeiro disco. Tal como John disse um dia, “If I get a thing going Ringo knows where to go, just like that”. Um grande compositor não pode desejar mais de um baterista. Exceto talvez que sorria e abane a cabeça.


3 comentários:

Rogério Wagner Vital Rogério disse...

Tem que ser o cara mais respeitado do ROCK, soube mostrar com muita competência todas as críticas e desconfiança por ser o baterista da maior banda de todos os tempos. Mas com o tempo mostrou que o som dos BEATLES jamis seria o mesmo sem ele,ou seja era o baterista que a banda precisava para ter aquele som. E se os BEATLES foram revolucionários em seus instrumentos e som RINGO foi tão importante quanto.
Ps: Ouçam STROBERRY FIELDS FOREVER e TOMROW NEVER KNOWS.

Dundum disse...

RINGO ESTÁ ACIMA DO BEM E DO MAL! DEPOIS, VEM OS OUTROS!

Lord Tambor disse...

SE ele fez parte da melhor banda que o mundo ja viu e ouviu e isso é fato,logo Ringo é sem dúvida um dos melhores bateras do mundo....

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