INTRODUÇÃO
Quando eu tinha 12 anos de idade meu pai comprou os dois últimos volumes da série Anthology em CD, e os bootlegs 69 Rehearsals Vol. 1, Ultra Rare Trax Vol. 4 e Vintage Songs. Aquela avalanche de coisas inéditas, juntas com os recentes Anthology 1 e Live At The BBC (com cerca de 10 horas de material que eu nunca tinha ouvido!) me pegou de surpresa.
Foi no meu aniversário de 13 anos que ele me levou à Galeria do Rock, no centro de São Paulo. Lá, conheci a loja Magical Mystery Club, antigo fã-clube dos Beatles. Pela primeira vez eu fiquei paralisado sem saber o que levar para casa. E isso aconteceria várias outras vezes no bom e velho Magical. Bem... aquele dia eu levei para casa o Ultra Rare Trax Vol. 6 e o filme Let It Be. Foi o suficiente.
Sempre que possível eu ia à galeria, ficar no Magical, ouvindo música. Ou no Cavern Club, que na época era bem na frente. Mas não foi em nenhuma dessas lojas que me deparei com o bootleg Off White Vol. 3. No alinhamento do CD, três músicas que eu nunca tinha ouvido me chamaram a atenção: "Frenzy & Distortion", "Child Of Nature" e "Peace Of Mind". Na hora em que ouvimos "Child Of Nature", todos reconheceram a melodia de "Jealous Guy". Mas ninguém sabia dizer o que eram as outras duas canções. Depois de um tempo, descobrimos que a primeira era de Ravi Shankar. Mas o mistério de "Peace Of Mind" continuou a me incomodar. E ainda o faz.
Depois de ouví-la umas 50 vezes naquela semana, levei uma fita K7, em que eu gravei a canção, para o Luiz Lennon, do Cavern. Na época, eu achava que ele era quem mais entendia de Beatles no mundo, junto com o Gilson Quináglia, do Magical.
Ingênuo, achei que tinha feito uma descoberta maravilhosa, mas mal sabia eu que a música já circulava há 25 anos nos mais variados bootlegs. É lógico que nenhum deles se surpreendeu com a minha gravação. Mas o Luiz chegou a dizer que parecia os Beatles, mas que todo mundo dizia que não eram eles. E o tempo foi passando, e a música tocando, e eu nunca descobri nada sobre ela.
Depois da Internet, que na verdade, para mim, começou naquela mesma época, as coisas ficaram mais fáceis. Mas nem tanto. Não encontrava-se nada sobre essa música, só o mp3, na época do Napster. Então, por meio do site Bootlegzone, li que a fita era - provavelmente - um demo de Lennon e Syd Barrett Barrett juntos. Comecei a pesquisar daí. Mas o resultado não chegava nunca, então, desisti. Simples assim.
Hoje, mais ou menos 10 anos depois da primeira vez que ouvi a canção, deparei-me com um artigo que discute justamente a mesma coisa que este: O que é "Peace Of Mind", um fake ou uma gravação perdida dos Beatles? Após ler e reler o texto (original em inglês: www.earcandymag.com/beatles-peaceofmind.htm), minha dúvida ainda existe. Então, tomando por base a linha de raciocínio do artigo original, resolvi escrever a minha versão do mesmo. Com alguns apêndices mais aprofundados quando possível, e um ponto de vista, talvez, diferente.
APRESENTAÇÃO
"Peace Of Mind" (ou "The Candle Burns") é uma música que há mais de 40 anos vem aparecendo em bootlegs dos Beatles ao redor do mundo. Quem está acostumado a colecionar esse tipo de gravações, com certeza já cruzou com esta canção. Para aqueles que ainda não a conhecem, ou que não se lembraram ainda, podem assistir um videoclipe feito por um fã, nesse vídeo:
Sua primeira aparição em um bootleg foi em 1973, no LP Peace Of Mind, da Contra Band Music. Em 1976, apareceu no LP Dr. Robert, da Wizardo. Esse LP também trazia "Have you Heard The Word?", outra música que durante anos foi atribuída aos Beatles, mas no final das contas, era de uma banda chamada The Fut. Em 1978, o LP 20x4 relançou outra vez a canção, e daí em diante, muitos outros discos e CDs vieram. Curiosamente, existe uma versão 20 segundos mais longa, com um fade-out diferente, no LP dos anos 80 chamado I'm A Loser, da Nanao Records Japan. A letra segue abaixo para quem quiser acompanhar:
"I’m looking at the candle burns a flame to meet the sky.
I leave the candle laughing. I turn my face to cry.
A safety pin returns my smile, I nod a brief hello,
while you are building molecules with your garden hoe.
Why can't this last forever, these things repressed inside?
One feels it almost instantly unless one of us died.
It’s over, it’s done, babe I need it again.
Just please, please, please... oh, don’t keep me from begin.
I need to hear the colours red and blue and whispered word.
To fly all day and sing in tune and not hear what I heard.
To see you all around me and to take you by the hand
and lead you to a brand new world that lately has been banned.
We’ll build things never built before. We’ll do things never done.
And just before it’s over, it’s really just begun."
TEORIAS & ESPECULAÇÕES
Muitas teorias são discutidas cada vez que se toca nesse assunto, mas existem quatro que são mais recorrentes, e são elas que nosso pensamento tentará esclarecer:
1 - a música é de uma banda da Apple Records chamada Trash
2 - é um demo de Syd Barrett (ex-Pink Floyd)
3 - é simplesmente um fake (uma falsificação de gente querendo se passar pelos Beatles)
4 - é mesmo um demo perdido dos Beatles
As especulações sobre datas são muito confusas. Mas o que se toma como padrão é o período entre Dezembro de 1966 e Maio de 1967, ou seja, durante as sessões do LP Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Mas é só examiná-la mais a fundo, que isso muda rapidinho. A maior das provas é a linha "And lead you to a brand new world that lately has been banned". "Peace Of Mind" é uma música claramente influenciada pelo LSD, que era uma droga nova na Inglaterra (se compararmos o uso que era feito antes e depois de 1967), e os Beatles a tomaram pela primeira vez em 1965. O uso da droga fora então criminalizado em 1966, na Inglaterra.
Isso determina que a canção é de 1966, e não 1967. A referência ao "mundo que foi recentemente banido" é suficiente nesse caso, pois os Beatles não ficariam um ano com a música guardada, devido à velocidade com que mudavam de ideias e projetos. E no caso de a música ter sido deixada de lado por mais de um ano, sofreria mutações notáveis como provam "Everyone Had A Hard Year" e "Child Of Nature", demos de 1968 que viraram "I've Got A Feeling" (1969) e "Jealous Guy" (1971), respectivamente. Um exemplo mais ratificante ainda é a canção "Two Of Us", que em 15 dias evoluiu de um rock and roll elétrico e, digamos, pesado, à uma balada acústica com John e Paul dividindo os violões e vocais.
Isso sem contar que qualquer pessoa que conheça a música em questão, e esteja familiarizado com os out-takes de estúdio, sabe que uma gravação daquela qualidade não seria feita durante as sessões de estúdio do Sgt. Pepper's, nem mesmo com muita droga. Logo, não é uma sobra de estúdio, e sim uma demo tape.
Então, de agora em diante, pensaremos nessa canção como se tivesse sido feita entre os discos Rubber Soul e Revolver. Revolver é bem mais experimental que Rubber Soul, e já possui algumas canções com referências às drogas, como por exemplo "Got To Get You Into My Life", "Dr. Robert", "Tomorrow Never Knows" e "She Said She Said". "Peace Of Mind", porém, é ainda muito mais explícita do que todas estas juntas. A decisão certa a ser tomada seria deixar algo assim para depois, e provavelmente Brian Epstein, ainda vivo, não gostaria que eles assumissem publicamente que usavam vários tipos de drogas. Isso só foi acontecer em 1967, quando Paul deu uma entrevista sobre o LSD, admitindo que ele e os Beatles usavam.
TEORIA Nº 1 - TRASH
O Trash foi formado no final de 1964/início de 1965 e se chamavam Pathfinders. Depois de um tempo, mudaram seu nome para Jason's Flock nos anos de 1966 e 1967 e acabaram se denominando White Trash em 1968. Pouco tempo depois, por razões puramente comerciais, reduziram o nome para Trash. Chegaram a gravar demos nos anos 60, e tudo que resta dessa época é um acetato de 1967, com as músicas "On Bench Number Three In Waterloo Station" e "Upside Down, Inside Out". O mais curioso é que o guitarrista Neil McCormick não pôde participar da gravação desse acetato, e ninguém menos do que Peter Frampton - antes da fama - foi chamado para substituí-lo. Essas gravações nunca foram lançadas, nem em bootlegs.
O Trash recusou demos de "Loving Things" e "Ob-La-Di, Ob-La-Da". Até que, no final de 1968, assinaram contrato com a Apple, e em Janeiro de 1969, lançaram o primeiro compacto: "Road To Nowhere/Illusions". O segundo compacto saiu em Outubro daquele ano e trazia "Golden Slumbers/Carry That Weight/Trashcan". Depois de passarem por problemas financeiros, encerraram a carreira, sem gravar mais nada pela Apple, embora rumores de que haviam gravações guardadas fossem recorrentes.
O primeiro bootleg a trazer "Peace Of Mind" foi lançado em 1973, e - logo abaixo do título da música - tinha a inscrição "found in an Apple trash can in 1970!". O que quer dizer que a fita contendo a música teria sido achada em 1970 em uma lata de lixo, do lado de fora da Apple. O fato de a banda ter contrato com a Apple, se chamar Trash e ter uma canção chamada "Trashcan" gerou todo esse rumor.
A prova final é a de que nenhuma das músicas do Trash lembram alguma coisa de "Peace Of Mind". Logo, podemos afirmar com certeza, que o Trash nada tem a ver com isso, foi só uma interpretação indevida, causada pela inscrição na capa do disco.
TEORIA Nº 2 - SYD BARRETT
Syd Barrett, um dos maiores gênios da história do rock, gravou um disco e meio com o Pink Floyd em 1967 e 1968, e nos anos de 1969 e 1970 lançou dois discos solo. Sua carreira musical se resume a isso. Esquizofrênico devido ao abuso do LSD, Barrett faleceu em 2006. Todavia, é o mais psicodélico dos roqueiros dos anos 60 e sua influência pôde ser sentida no resto da carreira do Floyd.
Na primeira metade do ano de 1967, o Floyd estava gravando o disco The Piper At The Gates Of Dawn no Estúdio 1 de Abbey Road. Ao mesmo tempo que os Beatles gravavam o Sgt. Pepper's no estúdio ao lado. Muitas histórias existem sobre como eles se encontravam nos corredores e usavam drogas juntos, ou trocavam ideias sobre técnicas de gravação. E os discos são mesmo parecidos entre si.
Uma das possibilidades é de que esta música teria acabado no LP More, de 1969. Mas nada lembra o estilo de "Peace Of Mind", e, já sem Syd Barret, o álbum não lembra muito do Floyd psicodélico de dois anos antes.
Ainda assim, existe uma coleção de bootlegs do Pink Floyd chamada Have You Got It Yet? trazendo raridades de quando Syd Barrett pertencia à banda. No Vol. 19, Apocrypha - Syd Barrett Hoax Tracks ('hoax' é boato, em inglês), tem a faixa "Peace Of Mind", e no seu encarte, tem a inscrição:
"Atribuído a Lennon, Harrison ou ambos, este 'fake' vem sendo uma constante em bootlegs dos Beatles desde os anos 70. Já foi decifrado e a identidade da pessoa responsável já foi determinada. De qualquer maneira existem algumas tentativas de creditá-la a Syd, então foi incluída aqui. É um bom pedaço de psicodelia, mas não é um boato convincente. Os Beatles? É possível. Syd Barrett? De jeito nenhum".
Infelizmente, o encarte não diz a identidade do responsável. Claro que isso foi um pequeno erro do pessoal que fez os piratas. Mas a história dos bootlegs nos deixa bem claro que isso é recorrente, e pode gerar uma inacreditável cadeia de informações erradas. Sendo que ninguém foi identificado, e não é Syd Barrett "de jeito nenhum", descartamos esta possibilidade e partimos para a próxima.
TEORIA Nº 3 - FAKE
O que é um fake? É uma edição falsa de uma música, criada para ser passada como uma versão inédita ou raridade. Um belo exemplo é a versão de 12 minutos de "Helter Skelter" feita a partir do take incluído no CD Anthology Vol. 3. 'Fake' é falso, em inglês. Ou seja, um take falso.
Fake pode ser também uma tentativa de parecer com os Beatles, mas a maioria desses fakes foram concebidos por engano. "LS Bumblebee" foi uma gravação de Dudley Moore e Peter Cooke, feita em 1967, para parodiar a música psicodélica. "Cheese And Onions" foi cantada por Neil Innes no Saturday Night Live. "Have You Heard The Word?" foi gravada pela banda The Fut. Por que todas elas foram confundidas com músicas dos Beatles? Pois, nesses três casos, o vocalista faz uma imitação ótima de John Lennon. Seria esse o caso de "Peace Of Mind"? Talvez. Mas o problema vai mais longe.
O VOCAL: Não parece só com a voz de John. As outras vozes parecem com George, Paul e Yoko. Além disso a harmonia vocal da música é fantasticamente construída, dando a entender que foi feita por alguma banda experiente com esse tipo de harmonia. São três vozes, como em "This Boy" ou "Because", por exemplo. Sem contar os sotaques.
A INSTRUMENTAÇÃO: Um violão faz uma base, e outro faz um dedilhado. O dedilhado é exatamente idêntico ao que John Lennon faz em "Dear Prudence". Isso serve de 'prova' para quem não acredita que sejam os Beatles. Explico. Donovan Leitch ensinou Lennon esse dedilhado em 1968, na Índia, e foi assim que Lennon fez "Dear Prudence". Mas isso não quer dizer que George, como era antenado, e estava envolvido com música indiana, não soubesse fazê-lo. Em um demo de "Strawberry Fields Forever" John Lennon reclama de não conseguir dedilhar, e vai para as palhetadas. Há ainda uma cítara, provavelmente gravada por George. Como George tocou os dois instrumentos? Simples, overdubs. Os Beatles tinham dois gravadores, e como se pode ver nos demos de Esher, muitas gravações sofriam overdubs de voz, e às vezes, outros instrumentos. Existe ainda um chimbal (prato de bateria) em alguns pontos da música. O interessante é que ninguém estava tocando bateria, e na verdade, o efeito é causado com a voz. Só quem conhecesse bem a música indiana saberia fazer isso.
A MELODIA: A canção tem, incrivelmente, um só acorde. Quem faria uma música dessas? Bem... John Lennon fez "Tomorrow Never Knows". E George, familiarizado com a música indiana de Ravi Shankar, ouvia bastante desse tipo. Paul, uma certa vez, disse a George Martin que tinha um projeto chamado "The Void", onde uma música seria tocada em apenas um tom, com apenas um acorde. Mas Martin o desencorajou e Paul nunca o fez.
OS EFEITOS: Além de todas essas evidências, há ainda os efeitos sonoros e de gravação. Além do já citado overdub, existe a técnica de "varispeed", ou seja, algo como multi-velocidade. Isso quer dizer que a fita pode ser acelerada e desacelerada quando o músico quiser. Pode ser notado que na segunda parte de cada verso, esse efeito causa a sensação de que os músicos subiram exatamente um tom. Os Beatles utilizaram essa mesma técnica em "Lucy In the Sky With Diamonds", para citar uma só. No início da canção, existe uma gravação em backwards, que os Beatles já utilizaram em "Rain" no início de 1966.
A GRAVAÇÃO: A grande maioria dos fakes são gravações de estúdio. O mais difícil de se fazer não é soar como os Beatles, mas sim gravar como eles. E essa gravação, quando comparada com outras gravações feitas em casa, entre 1963 e 1965, mostram um avanço tecnológico. Do mesmo tipo que os Beatles estavam causando em estúdio, na época. Ao ser comparada com as Demos de Kenwood e Esher, essa gravação não fica longe daquilo que os Beatles gravavam como demos.
A LETRA: A letra tem algumas passagens que lembram o estilo de Lennon no ano de 1966, quando suas letras influenciadas pelas drogas eram recorrentes (como por exemplo "She Said She Said" e "Dr. Robert", ambas do disco Revolver). Em particular, essa letra tem relações de similaridade com a letra de outra música do Revolver, "Tomorrow Never Knows". Principalmente nas três seguintes passagens:
"the candle burns a flame" / "it is shining, it is shining"
"i need to hear the colours red and blue" / "listen to the colours of your dreams"
"and just before it's over, it's really just begun" / "existence to the end, of the beginning"
Com todas essas evidências, fica difícil afirmar com certeza que não são os Beatles. Isso foi gravado em 1966, quando poucas bandas sabiam das possibilidades dos estúdios de gravação. E o conhecimento musical demonstrado na música pode levar à impressão de que realmente sejam os Beatles ali. Seria então "Peace Of Mind" um embrião de "Tomorrow Never Knows"? Talvez. O instrumental poderia ter sido reutilizado, com uma nova roupagem, em "Dear Prudence"? Talvez. Como citado lá no início, isso ocorreu com "I've Got A Feeling" e "Jealous Guy". O que nos leva à próxima questão...
TEORIA Nº 4 - SERIAM MESMO OS BEATLES?
O que já pode ser constatado até agora, e isso sem nenhuma fantasia fanática, é que a canção lembra coisas feitas pelos Beatles entre 1966 e 1967. Outros fatos remetem aos anos de 1968 e 1969 ou tão longe quanto 1971. Isso, obviamente, julgando apenas semelhanças sonoras e tecnológicas. No entanto, nenhuma dessas semelhanças é prova defitiniva de que são (e nem de que não são) os Beatles.
Existem três fatos principais que fazem a dúvida permanecer, e são os seguintes:
1) Nunca tocou no Lost Lennon Tapes
A série Lost Lennon Tapes, veiculada no rádio entre 1988 e 1992, com 218 programas semanais, liberou mais de 200 horas de gravações de Lennon, entre out-takes de estúdio, demos, entrevistas e apresentações ao vivo. Uma coleção de bootlegs que retrata bem esses programas é a da Walrus ("The Complete Lost Lennon Tapes"), que já foi analisada aqui no site Beatles Brasil pelo colecionador Vladimir Araújo. No meio da série foram veiculadas até algumas músicas gravadas entre 1966-1970, quando John ainda era um Beatle.
Nenhuma das inúmeras coleções existentes, nem mesmo a que traz todos os 218 programas na íntegra, inclui a canção "Peace Of Mind". Nem mesmo uma citação. E olha que coisas como os primeiros demos de "Woman Is the Nigger Of The World", "Rock And Roll People" e "New York City", inéditos àquela altura, foram veiculados nos programas.
Produzido pela rádio Westwood One com o apoio de Yoko Ono e Elliot Mintz, tudo o que tocou ali naqueles programas tinha por trás duas das pessoas mais confiáveis como fontes de informação de John. Ou seja, nada do que fosse fake ou coisas desse tipo, iria tocar naquele especial.
2) Yoko Ono nunca tentou registrá-la
Antes de "Peace Of Mind", uma das músicas mais famosas a ser confundida com os Beatles era "Have You Heard The Word?", da banda The Fut, já discutida aqui. No entanto, no dia 20 de Setembro de 1985, Yoko Ono a registrou em nome de John. O que se torna mais estranho ainda, tendo a declaração de John do dia 27 de Setembro de 1974, sobre a música: "Não... acho que confundiram com 'The Word', a música dos Beatles do disco Rubber Soul... mas não existe tal música. Soa como a gente. É uma boa imitação". Yoko não registrou outra canção desse tipo, e "Peace Of Mind" sequer foi citada por ela ou Lennon, em algum ponto de suas vidas.
3) Ninguém se pronunciou a respeito da canção
Nenhum dos personagens relacionados aos Beatles (Paul, Ringo, George, George Martin, Neil Aspinall, entre outros) nunca citou essa canção, dando força ou desmentindo qualquer uma das teorias. É como se a canção, o caso de ser dos Beatles, fosse 100% ignorada por todos os envolvidos na história. Mas o mistério está longe de ser resolvido, pois existe ainda o fato de nenhum artista/banda ter se declarado 'dona' da música. É como se toda a humanidade ignorasse a autoria da canção. Isso ainda inclui a banda Trash e Syd Barrett.
E esses três fatos deixam a interpretação ainda mais em aberto. Alguém pode acreditar que se fossem mesmo os Beatles, eles já teriam autenticado a fita, como fizeram com "Puttin' On the Style", gravada no dia em que John e Paul se conheceram, e muitas outras. No entanto, podem acreditar que como nunca negaram, quer dizer que são realmente eles.
CONCLUSÃO
Quando perguntados, no grupo Beatles Brasil, sobre a música em questão, dois especialistas se pronunciaram, e ao meu ver, mais próximos de creditar a canção aos Beatles. Marcelo Fróes disse que "soa como os Beatles, sim" e adiciona outra opinião interessante: "Aquilo não é fita encontrada no lixo. Fita no lixo é amassada, não do tipo que fica emperrando. Isso é coisa de fita velha, de má qualidade, guardada em armário". Finaliza com um enigmático "Não sei. Aquilo é estranho. Mas é bom".
Cláudio Teran, outro colunista do site, diz que "aquilo parece Beatles mesmo. O vocal tem alguma coisa de George Harrison". Mas adverte que "por anos a fio acreditávamos que fossem mesmo os Beatles", dando a entender que já está estipulado que não são eles.
Eu, particularmente, acho que existem chances enormes de serem mesmo os Beatles. As evidências me fazem pensar muito mais nessa possibilidade do que nas outras. Mas talvez eu tenha uma ligação emocional com a música. Talvez eu apenas goste de pensar que é a 'canção perdida dos Beatles'. Só uma coisa está certa: "Peace Of Mind" é um mistério que ainda irá perdurar por muito tempo no circuito de fãs dos Beatles.
Por Vitor Suman
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