quinta-feira, 13 de outubro de 2016

As Canções Encomendadas a Lennon e McCartney


Certamente a dupla de compositores John Lennon e Paul McCartney é a mais gravada de todos os tempos. Bastaria a canção "Yesterday" com mais de 2.000 versões para lhes conferir este título. Isto sem contar uma seleção de astros que já interpretaram seus clássicos, já imortalizados pelos próprios Beatles, como Frank Sinatra, Elvis Presley, Rolling Stones, Aretha Fraklin, Michael Jackson, Bee Gees, Barbra Straisand, Elton John, U2, e muitos outros. Mas houve uma época em que os jovens músicos compunham por encomenda de seu empresário para outros artistas tão jovens e menos conhecidos que os Beatles.


O ano de 1963 foi um marco para a história da música pop britânica, pois em um cenário onde a música popular norte-americana dominava por anos, nunca uma dupla de compositores ingleses haviam ficado em primeiro lugar nas paradas por tanto tempo como Lennon e McCartney que, além de arrebatarem o topo das paradas com o álbum de estréia "Please Please Me", estacionaram lá o single "From Me To You" por sete semanas. Um outro grupo estreante de Liverpool, Billy J. Kramer and The Dakotas foi o primeiro a regravar uma canção dos Beatles com "Do You Want To Know a Secret?" e, para o lado B, solicitaram uma outra inédita de Lennon e McCartney, que escreveram para eles "I'll Be On My Way", e o sucesso foi imediato.

Empolgado com este súbito sucesso, o empresário dos Beatles, Brian Epstein tinha em sua empresa (a NEMS) uma série de outros artistas, aos quais as canções da dupla foram logo encomendadas. Como John e Paul compunham em profusão, eles possuíam um excedente de canções com que puderam atender a demanda de Epstein, sem muita dificuldade. E, em 26 de julho, o mesmo Billy J Kramer and The Dakotas lançou o single "Bad To Me" que foi outro grande sucesso comercial. Quatro dias depois, foi a vez de "Tip of My Tongue" com o cantor Tommy Quickly e, surpreendentemente, veio um dos pouquíssimos fracassos, senão o único, de Lennon e McCartney. Porém, um mês depois o grupo The Fourmost emplacou com "Hello Little Girl" seguido por Cilla Black com "Love of The Loved" e, no final do ano, Billy e seus Dakotas junto com o Fourmost repetiram o feito, respectivamente, com "I'll Keep You Satisfied" e "I'm In Love". Com tamanha quantidade de hits John Lennon e Paul McCartney poderiam até largar o grupo e sobreviver apenas de seus direitos autorais, mas o sucesso dos Beatles no final de 63 bateu todos os recordes de vendagem no Reino Unido com os singles "She Loves You" e "I Want To Hold Your Hand", estancou, em parte, as douradas encomendas.

No início de 1964, com o sucesso mundial do grupo, a demanda pelas canções com a grife "Lennon e McCartney" começaram a extrapolar os limites dos contratados da NEMS, pois naquele momento quase todos queriam uma canção inédita da dupla, como o duo inglês Peter and Gordon que, em fevereiro, lançaram o compacto "World Without Love" e desta vez foram ao primeiro posto da paradas não só na Inglaterra como também nos Estados Unidos. Peter e Gordon ainda gravaram mais duas canções inéditas de John e Paul, ambas grandes êxitos como "Nobody I Know" e "Woman", esta curiosamente assinada pelo pseudônimo de Bernard Weeb, pois os compositores quiseram testar se suas músicas vendiam apenas pela sua popularidade ou se realmente teriam qualidade.

Não demorou e veio a primeira encomenda dos Estados Unidos, proveniente de um grupo de estúdio chamado The Applejacks, liderado pelo compositor de vários dos sucessos de Chubby Checker, Dave Appell, que lançaram no verão de 64 o single "Like Dreamers Do". Devido aos muitos compromissos dos Beatles e à atenção cada vez maior dada aos seus próprios álbuns, fez com que John Lennon e Paul McCartney compusessem com exclusividade para seu próprio grupo. Os poucos felizardos que ainda foram brindados com canções inéditas foram o grupo inglês The Strangers com "One & One is Two" (64), o cantor americano radicado na Inglaterra P.J. Proby ganhou "That Means a Lot" (65, uma sobra do álbum "Help!"), a conterrânea da dupla, Cilla Black ainda recebeu "It's For You" (64) e "Step Inside Love" (68) e uma das últimas e raras inéditas "Goodbye" (69) interpretada por Mary Hopkin, primeira contratada pela gravadora dos Beatles, a Apple Records. Naquela altura, Lennon e McCartney já eram uma lenda viva da música pop da década de 60 e suas canções, mesmo as já gravadas pelos Beatles, eram regravadas por vários outros artistas, com isso eles se tornaram os maiores arrecadadores de direitos autorais da história.

Entretanto, mesmo com toda a fama, John e Paul sempre quiseram escrever uma canção inédita para Frank Sinatra, um ídolo da dupla antes do rock'n'roll capturá-los. Sinatra já havia gravado "Yesterday", mas um dia telefonou para os estúdios de Abbey Road, em Londres, onde falou com McCartney, pedindo-lhe uma canção. Paul havia escrito uma música em sua adolescência chamada "Suicide" sonhando um dia entregá-la para Frank Sinatra, tratava-se de uma canção em estilo cabaré. Foi justamente esta a canção que Paul enviou para Sinatra, que não entendendo o tom de brincadeira da letra, a recusou terminantemente. Parte de"Suicide" foi parar em "McCartney", primeiro disco solo de Paul em 1970, com o título de "Glasses". Anos mais tarde, num concerto, Frank Sinatra, antes de cantar "Something" de George Harrison, anunciou que cantaria uma música de Lennon e McCartney. O que é a fama!

Por Sérgio Farias

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