"All You Need Is Love", além de ser uma das favoritas dos fãs dos Beatles, tem importância histórica por ter sido a primeira canção transmitida via satélite (Saiba mais), e eles próprios têm consciência disso. Confira uma coleção de pequenos depoimentos dos próprios Beatles (e alguns colaboradores) sobre a transmissão do programa Our World com a lendária música.
Ringo:
A transmissão Our World foi sensacional, atingindo centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro. Foi a primeira transmissão mundial via satélite já realizada. Agora é uma coisa padrão, mas na época, quando fizemos, foi a primeira. Isso era emocionante; nós estávamos fazendo uma porção de "primeiras". Eram tempos empolgantes.
Paul:
Fiquei acordado a noite inteira antes do show, desenhando na camisa que eu estava usando. Eu tinha alguns produtos químicos chamados Trichem - dava pra desenhar numa camisa com eles, e depois se podia lavar a camisa e o desenho ficava. Eu os usei muito, muitas foram as camisas ou portas que eu pintei com eles. Era uma boa diversão. Aquela camisa ficou retalhada depois do show; entretanto, do jeito que vem, vai.
George:
Eu não sei quantos milhões de pessoas assistiram à transmissão, mas parece que foi um número fenomenal. Provavelmente foi o mais cedo que a tecnologia possibilitou aquele tipo de ligação via satélite: eles transmitiam do Japão, México, Canadá - por toda a parte.
Lembro da gravação, porque decidimos introduzir pessoas que tivessem a cara da "geração do amor". Se você olhar atentamente para o chão, eu sei que Mick Jagger estava lá. Está também o Clapton, eu acho, em trajes psicodélicos em grande estilo com permanente, sentado bem ali. Foi ótimo: a orquestra estava lá e foi ao vivo. Ensaiamos um pouco e então: "Vocês entram às doze em ponto, rapazes". O sujeito lá em cima apontou o dedo e pronto. Entramos para uma única tomada!
Neil Aspinall:
Foi uma filmagem profissional. Eu me lembro das equipes de câmeras e muita gente colorida. Foi psicodélico e tudo o mais, mas a BBC filmou em preto e branco! Se a gente soubesse disso, nós mesmos teríamos filmado.
Ringo:
Adoramos nos fantasiar e nossas roupas foram feitas para o programa. Simon e Marijke, do grupo The Fool, fizeram a minha. Era pesada pra danar, eu estava com todos aqueles colares que pesavam uma tonelada. Você pode ver os semblantes felizes. Eu tinha o Keith Moon ao meu lado. Todo mundo estava aderindo - foi um momento fabuloso, tanto musical quanto espiritualmente. E para aquele programa, os autores da canção foram mestres em acertar na mosca.
Paul:
Os Beatles cantaram "All you need is love". A canção era do John, principalmente; uma daquelas que estavam à mão na época. Ela se ajustava muito bem, logo, poderia ter sido escrita especialmente para a ocasião (e já que a tínhamos, ela era certamente talhada para o programa). Mas eu tinha a impressão de que era uma das canções do John que de qualquer forma apareceria. Fomos ao Olympic Studios em Barnes e a gravamos e todos disseram: "Ah, é esta que devemos usar".
Brian Epstein:
Nem por um momento me preocupei de que pudessem não propor algo maravilhoso. O compromisso para o programa de TV estava marcado com alguns meses de antecedência. O momento foi ficando cada vez mais próximo e eles ainda não tinham escrito nada. Então, cerca de 3 semanas antes do programa, sentaram para escrever. A gravação ficou pronta em 10 dias. É uma canção inspirada, porque eles a compuseram para um programa mundial e realmente quiseram passar uma mensagem para o mundo. Dificilmente poderia ter sido uma mensagem melhor. É uma gravação maravilhosa, linda, de dar arrepio na espinha.
Paul:
Em estilo, ela remonta um pouco o nosso começo, imagino, mas está realmente na próxima volta da espiral. Eu a defino como uma olhada para trás, como um novo sentimento.
John:
Tocamos apenas uma faixa. Uma vez que eu sabia os acordes, eu tocava qualquer coisa que fosse, até cravo. George tocou um violino e Paul um double bass. Como eles não sabiam realmente tocar esses instrumentos, conseguimos uns barulhinhos legais. Parecia uma orquestra, mas são só os dois tocando. "Ora essa, vamos pôr um pouco mais de instrumentos nessa orquestra esquisita que conseguimos". Mas ninguém tinha ideia de como soaria no final, até o ensaio. Ainda pareceu um pouco estranho na hora".
George Martin:
John compôs "All You Need Is Love" especialmente para o programa de televisão. Brian chegou de repente, desorientado, e disse que iríamos representar a Inglaterra em cadeia mundial e tínhamos que compor uma canção. Era um desafio. Dispúnhamos de menos de 2 semanas para compô-la e então soubemos que seriam mais de 300 milhões de pessoas assistindo, o que na época era uma cifra fenomenal. John propôs a idéia da canção, que era ideal, maravilhosa.
George Harrison:
Pelo clima da época, parecia ser uma grande idéia apresentar aquela canção enquanto o resto do mundo estava mostrando tricô no Canadá ou sapateado na Venezuela. Pensamos: "Bem, nós cantaremos "All You Need Is Love", porque ela é uma peça sutil de relações públicas para Deus". Eu não sei se a canção foi composta antes disso, porque havia muitas canções circulando na época.
George Martin:
Ao fazer o arranjo, empurramos "La Marseillaise" para o início, e uma série inteira de coisas para o fim. Entrei em grandes apuros com isso. Receio que entre todos os pequenos trechos e peças que usamos na apresentação final (que os rapazes não conheciam) havia um pedaço de "In The Mood". Todos achavam que "In The Mood" era de domínio público (e é), mas a introdução não é! A introdução é um arranjo, e foi a introdução que eu peguei!
Era um trabalho publicado! A EMI me procurou e disse: "Você colocou isso no arranjo, e agora você terá que nos indenizar contra qualquer ação que possa ser movida!". Respondi: "Vocês devem estar brincando. Eu ganhei 15 libras para fazer aquele arranjo, e isso é tudo". Eles entenderam a piada. Acho que pagaram um honorário a Keith Prowse, ou para quem quer que fosse o editor, e eu eliminei os arranjos. "Greensleeves" também estava lá (meio andamento) para costurar com um pouco de Bach e o trecho de "In The Mood".
Paul:
Fomos até a EMI para o programa. Fizemos muitos testes de gravação e então cantamos ao vivo para a trilha de fundo. Trabalhamos com a ajuda de George Martin e foi um dia produtivo. Estávamos lá desde o começo da manhã para ensaiar com câmeras e havia uma grande orquestra (para todo aquele trecho com "Greensleeves") tocando no encerramento da canção. Pediram que a banda convidasse pessoas e levamos gente como Mick e Eric, além de todos os nossos amigos e queridas esposas.
George Martin:
Eu apareci no programa. Havia uma câmera para a sala de controle. foi um pouco aflitivo porque foi feito no grande estúdio nº1 da EMI. A sala, na época, ficava ao pé da escada. Não era muito grande e ali ficaram Geoff Emerick, o operador de fita, e eu. Havíamos preparado uma trilha básica da gravação para o programa de televisão mas íamos fazer muita coisa ao vivo. Havia uma orquestra ao vivo e o canto e a platéia também eram ao vivo e sabíamos que seria um programa de televisão com transmissão direta.
Trinta segundos antes de começar, o telefone tocou. Era o produtor do programa, dizendo: "Acho que perdi todo o contato com o estúdio e vocês terão de repassar as instruções para eles, porque agora entraremos no ar a qualquer momento". Pensei: "Meu Deus, se a gente vai fazer papel de bobo, será diante de 350 milhões de pessoas". Naquele ponto, apenas dei risada.
Neil Aspinall:
"All We Need Is Love" foi direto para o primeiro lugar. Acho que ela expressa o clima da época, com o "Flower Power" e todo aquele movimento. Realmente era hora de dizer: "tudo que você precisa é amor".
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