quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Os Instrumentos dos Beatles: Guitarra Rickenbacker 325-58



O escritor Ray Colemann, numa entrevista em 1965, pediu a John Lennon que dissesse qual a sua posse de maior valor. "Minha primeira Rickenbacker. Eu a comprei na Alemanha em prestações. Não importa quanto tenha custado, era muito dinheiro pra mim", respondeu John. Já milionário na época da entrevista, tinha adquirido muitos bens materiais. Mas foi sua velha Rickenbaker que ele considerou o seu bem mais valioso.

Devido à sua raridade e à sua associação com John Lennon, esta guitarra tornou-se o Santo Graal para colecionadores e estudiosos. Também é o instrumento mais modificado por ele e do que mais se tem informações desde sua fabricação.

Adolph Rickenbacher (era assim que seu sobrenome era escrito originalmente) nasceu na Suíça em 1892. Aparentemente seus pais faleceram quando ele ainda era menino e parentes o levaram para a América. Morou em Columbus (Ohio) e Chicago antes de fixar-se em Los Angeles em 1918. Ele e dois sócios fundaram a "Rickenbacher Manufacturing Company" em 1925, uma empresa que fabricava peças metálicas e plásticas. Engenheiro brilhante, Adolph também era um homem agradável e generoso. Seus amigos o chamavam de Rick. Com sua competência fez a Rickenbacher Mfg. crescer rapidamente e logo possuía uma das maiores prensas de repuxo da Costa Oeste dos EUA.

George Beauchamp, texano, tocava guitarra havaiana nos teatros de revista e, como muitos outros guitarristas, andava frustrado. Queria um instrumento que pudesse ser ouvido quando tocado junto com um naipe de metais ou que pelo menos tivesse um volume compatível com o banjo, o instrumento de cordas que tocava com maior volume naquele tempo. Sua busca o levou ao luthier John Dopyera, que mantinha uma oficina com seu irmão Rudy. Desse esforço nasceu um tipo de violão que chamado de "Ressonator Guitar", aqui conhecido como Violão Dinâmico, produzido por muito tempo pela Del Vecchio. A National String Instrument Corporation foi fundada em 1928 com vários sócios, entre eles George Beauchamp e John Dopyera, para fabricar e distribuir os violões dinâmicos com corpo de madeira ou aço. Depois de algum tempo houve um desentendimento entre os sócios quando os irmãos Dopyera saíram da sociedade e fundaram a Dobro (Dopyera Brothers) que fabricava o mesmo tipo de instrumento.

Esses violões exigem um alto grau de precisão na manufatura das peças metálicas para que funcionem direito e passo lógico era contratar uma empresa metalúrgica que pudesse garantir essa qualidade. A National e a Dobro tornaram-se clientes de Adolph Rickenbacher.

Nos anos 20 a idéia de instrumentos de corda elétricos já estava no ar por algum tempo. Com os problemas societários se acumulando na National, George Beauchamp começou a pesquisar avidamente essa possibilidade trabalhando à noite na mesa de jantar de sua casa. Acabou desenvolvendo o primeiro captador para guitarras, o "Horse Shoe" (ferradura). Ele foi montado num protótipo de guitarra havaiana feito à mão na garagem de sua casa pelo artesão Harry Watson e esta foi a primeira guitarra elétrica construída no mundo. É conhecida por Frying Pan (frigideira) por motivos óbvios. A patente desse produto foi pedida em 1932 e concedida em 1937.

Adolph Rickenbacher tinha tomado gosto pelo pela indústria de instrumentos musicais e gostava bastante de Beauchamp. Ao ver a nova invenção e acreditando em seu sucesso comercial, propôs a Beauchamp a fundação de uma nova companhia. Os dois e mais alguns amigos fundaram a Ro-Pat-In Corporation em 1931 que tinha Adolph Rickenbacher como seu presidente. A empresa fixou endereço num prédio ao lado da Rickenbacher Mfg. e iniciou a produção das "Frying Pan" e violões elétricos que traziam a marca Electro Strings Instruments. Em 1934 o nome da companhia foi mudado de "Ro-Pat-In" para "Electro Strings Instruments Corporation" e os instrumentos fabricados começaram a se chamar Rickenbacker Electros já com a grafia americanizada. O nome Rickenbacker era famoso na época por causa de um primo de Adolph - Eddie Rickenbacker, um ás da aviação da Primeira Guerra - e eles desejavam capitalizar essa conexão. Mas chamar os instrumentos com o sobrenome de Adolph era um movimento natural já que ele era o maior acionista da empresa e suas contribuições técnicas aos produtos eram inestimáveis.

George Beauchamp, com a saúde abalada, renunciou à sua posição na corporação em 1940 e vendeu suas ações para o guarda-livros de Adolph. Pouco depois morreu de um ataque do coração enquanto, contra a orientação de seu médico, pescava em mar profundo. A procissão em seu funeral tinha mais de 3 km de comprimento... não lhe faltavam amigos.

A Electro Strings Instrument Corporation, sob o comando de Adolph, continuou produzindo uma grande gama de instrumentos de corda e acessórios. Aproximando-se da idade da aposentadoria, Adolph começou a pensar em vendê-la. Encontrou um entusiasmado comprador em 1953.

Francis C. Hall nasceu em Iowa em 1909 e mudou-se para Santa Ana, Califórnia, em 1919. Em 1927 fabricava baterias (pilhas) em casa e as vendia através da loja de seu pai. O negócio evoluiu para uma das mais prósperas companhias de distribuição de peças para eletrônica do sul da Califórnia. No final dos anos 30 ele rebatizou a empresa de Radio and Television Equipment Company, também conhecida como Radio-Tel. Em 1946 a Radio-Tel começou a distribuir guitarras havaianas e amplificadores feitos por Leo Fender em Fullerton - Califórnia, rapidamente se transformando seu distribuidor exclusivo e construindo uma rede nacional de distribuição para os produtos Fender.

Hall apoiou Leo Fender financeiramente numa época em que a fabricação de guitarras elétricas era algo considerado de alto risco pelos homens de negócio. Claramente ele foi uma das primeiras pessoas a reconhecer as brilhantes possibilidades comerciais existentes nas guitarras elétricas.

Em dezembro de 1953 Adolph Rickenbacker vendeu a Electro Strings Instruments Co. para Mr. Hall. Pouco depois Leo Fender e Don Randall fundaram a Fender Sales, Inc. que iria gerenciar toda a distribuição dos produtos Fender. Hall vendeu suas ações da companhia e começou a se dedicar à modernização da Electro Strings e da sua linha de guitarras Rickenbacker.

Mr. Hall dirigia os caminhos da empresa com competência, decidindo quando introduzir novos modelos e sempre estimulando a criatividade de seus empregados. Um deles, Roger Rossmeisl em 1957, desenvolveu um modelo semi acústico, estilisticamente inovador e batizou a linha de "Capri". Logo o nome foi abandonado e as guitarras ficaram mais conhecidas como Modelo 300. Francis Hall acreditava que versões com tamanho reduzido do original seriam bem vindas e definiu uma linha neste sentido chamando os modelos de 310, 315, 320 e 325. Na Rickenbacker os códigos com final "0" significam guitarras com ponte fixa comum e os de final "5", guitarras com tremolo.

Em 1960 John Lennon ouviu na Alemanha, no rádio, a banda de jazz de George Shearing tocar e ficou entusiasmado com o som da guitarra. O guitarrista era Jean "Toots" Thielemans, há longo tempo um endorser das guitarras Rickenbacker. Na capa de um disco de "Toots" notou que ele usava uma Rickenbacker.

Um dia, acompanhado de George Harrison, John entrou numa loja em Hamburgo e comprou uma Rickenbacker em prestações, mas pensando no esquema "algum dinheiro agora e o resto quando te pegarem". Não há registros de que john tenha pago o instrumento algum dia. A Rickenbacker que John comprou era um Modelo 325 com acabamento natural, quatro knobs, três captadores, escudo dourado e um trêmolo VibRola - número de série V81.

A fabricação desses modelos teve início no começo de 1958 com os números de série começando em V80. Isso indica que a guitarra de John foi a segunda a ser fabricada. A guitarra com o número V80 tinha acabamento sunburst (chamado de Autummglo) o que torna a guitarra de Lennon a primeira em acabamento natural (chamado de Mapleglo) a ser produzida. Apenas 28 guitarras foram fabricadas no ano de 1958: 20 Autummglo e 8 Mapleglo. A guitarra de John tem o tampo sólido enquanto a maioria das 325 produzidas têm um "f-hole", um buraco em forma de "f" parecido com os usados nos instrumentos de arco. Isso a torna um dos instrumentos mais raros já fabricados pela Rickenbacker.

Mr. Hall e a guitarra de Lennon.

A guitarra comprada em Hamburgo também foi fotografada na Feira de Instrumentos Musicais da NAMM (National Association of Music Merchants) de 1958 em New York. Numa foto do stand vê-se a guitarra de John no canto inferior direito e em outra, onde "Toots" Thielemans está tocando, vê-se a guitarra na direção de seu cotovelo. Ela pode ser reconhecida por um desenho específico da madeira em seu "chifre" maior, pela curvatura incomum da alavanca do trêmolo e pelos cinco parafusos de fixação do escudo - provavelmente um ajuste feito na própria feira a pedido do demonstrador. A guitarra de Lennon é a única com essa curva dupla e com esse número de parafusos de fixação, o que a torna especialmente rara. Todas as outras têm a alavanca praticamente reta e quatro parafusos.


As guitarras foram um fracasso, ninguém se interessou por elas. Decidiu-se então fazer algumas modificações. De volta à Los Angeles o circuito elétrico foi modificado sendo acrescentados dois potenciômetros, disponibilizando agora dois controles de volume e dois de tom, aumentando a versatilidade. Também foram equipadas com novos knobs em estilo Art-Deco, hoje conhecidos como "botões de fogão". Todas as peças originais foram reaproveitadas, o que explica a guitarra de John continuar com os cinco parafusos e com a alavanca com a dobra extra.


Registros da fábrica detalham o embarque, em 15 de outubro de 1958, de três Modelos 325 Mapleglo, incluindo a de numero de série V81, para o distribuidor na Alemanha - a Framus Company. Praticamente dois anos depois John Lennon entra na loja Musikhaus Rotthoff, em Hamburgo, e pede uma Rickenbacker. Coincidentemente eles têm uma encalhada no estoque há muito tempo e as vontades se complementam. John tem agora uma legítima guitarra americana, algo com que sempre sonhara e a loja livrou-se de um produto difícil de vender. Esta coincidência salvou o Modelo 325 de uma extinção quase certa e ainda tornou-o um dos produtos mais populares e procurados da Rickenbacker.

John não era muito apegado à originalidade das peças de sua guitarra e promoveu profundas transformações nela. A primeira foi uma troca de trêmolo em 1961. O Kaufmann VibRola não era um equipamento muito estável e não conservava a guitarra afinada por muito tempo. Talvez inspirado na Duo Jet de George, encomendou um trêmolo Bigsby B-5. Quando o equipamento chegou, John foi com sua guitarra buscá-lo e o trêmolo foi instalado na própria loja. Um novo cavalete de alumínio, chamado de "Bow Tie" (gravata borboleta), veio com o conjunto e também foi instalado no instrumento. John ficou satisfeito com seu novo e muito mais estável trêmolo.

O Vibrola original e o novo Bigsby com a Bow Tie

Mas os knobs estavam sempre caindo e John começou a usar um modelo cromado, comprado em loja de equipamentos eletrônicos, talvez pela maior facilidade de obtenção.

Em 1962 John decidiu pintar a guitarra. Não se sabe exatamante o que o levou a isso, mas provavelmente a idéia de Brian Epstein em ter o visual da banda com tudo combinando tenha influenciado na decisão de pintá-la de preto, combinando com a Duo Jet de George. O serviço foi feito por Charles Bantam, um pintor de automóveis com oficina em Birkenhead, um subúrbio de Liverpool. Ao mesmo tempo John resolveu trocar os knobs por um modelo da Hofner, iguais aos do baixo de Paul. A primeira foto que denota esta mudança foi tirada em 12 de outubro de 1962. Mas como o pintor pouco entendia de guitarras, devolveu o instrumento com as ligações elétricas erradas e a guitarra não funcionava direito. Ela vivia com o escudo apenas preso por dois parafusos o que mostra que várias tentativas de consertá-la estavam sendo feitas entre as apresentações. E os knobs continuavam caindo.

Na última quinzena de 1963, com o grupo em férias, a guitarra foi levada para Jim Burns, um fabricante de guitarras de Essex, e a parte elétrica foi consertada. Nesse momento ganhou o último jogo de knobs que teria - os knobs que Burns usava em suas guitarras.

 Na ordem: a) Knobs originais, estilo botão de fogão; b) Knobs da loja de eletrônicos; c) Knobs Hofner e d) Knobs Burns

A guitarra foi usada por John em todas as apresentações ao vivo e em todos os trabalhos de estúdio entre sua compra em 1960 e a primeira apresentação no Ed Sullivan Show em New York em 1964, onde ela fez sua última aparição pública. Na segunda apresentação, em Miami, John já usou sua nova Rickenbacker 325, Jetglo (preta), fabricada em 1964 e que lhe foi entregue um dia antes do programa. As últimas fotos em que a velha Rick aparece são de 30 de setembro de 1964, dentro do estúdio, data em que aparentemente foi definitivamente aposentada.

A guitarra não foi tocada seriamente até 1970 quando John resolveu restaurá-la. Levou-a ao luthier Ron de Marino de New York, que a retornou ao seu acabamento transparente original, trocou o escudo dourado que estava rachado por um branco e colocou novas tarraxas Grover Sta-Tite seladas. A guitarra ainda pertence a Yoko Ono e está exposta no Museu John Lennon de Tóquio.

A Rick em sua condição atual

Especificações Originais

Número de série:
V81

Ano de fabricação:
1958

Cor:
Mapleglo (natural)

Escudo:
Simples, dourado

Corpo:
Alder, semi sólido

Braço:
Alder, laminado

Escala:
Alder

Marcadores de posição:
Discos (bolinhas) de plástico cor creme

Tarraxas:
Grover, não seladas

Captadores:
3 Single coil estilo "toaster" (torradeira)

Controles:
Chave seletora de três posições, 2 controles de volume e 2 de tonalidade

Ponte:
De roletes

Trêmolo:
Kaufmann VibRola

Knobs:
Art Deco - estilo botões de fogão

Por Carlos Assale

Teria esse disco inspirado a capa do Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band?


O historiador sueco Jörgen Johansson acaba de lançar uma curiosa teoria, publicada originalmente no WogBlog: a capa do LP Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band, lançado pelos Beatles em 1967, teria sido inspirada nesse compacto (um EP com quatro músicas) de uma banda estudantil sueca chamada Mercblecket, lançado em 1964.

O disco contém 4 paródias de músicas dos Beatles ("I Want To Hold Your Hand", "This Boy", "All My Loving" and "I Saw Her Standing There"), as mesmas músicas, com letras diferentes, acompanhadas pelo grupo, composto basicamente de metais. Assim como na capa do Pepper, mostra membros da banda agrupados em torno de um bumbo de bateria, onde pode-se ler o nome da banda, todos uniformizados com aquelas jaquetas típicas das bandas marciais (vermelhas, amarelas e azuis).

A teoria ganha credibilidade quando ficamos sabendo que Paul McCartney tinha esse disco. Isso mesmo! Quando, em Julho de 1964, os Beatles pousaram em Estocolmo, foram recebidos, no aeroporto, por várias autoridades e pela banda Mercblecket tocando seu repertório de músicas dos Beatles. No vídeo abaixo, por volta dos 27 segundos, dá pra ver um dos membros da banda, Roger Wallis, entregando uma cópia do disco a Paul – que teria até, em uma entrevista, elogiado o trabalho. Nas suas palavras, “eu gostei deles, eles realmente tem a batida! É realmente grande!”.

Essa história contradiz uma teoria mais antiga, de que a capa do Sgt. Pepper teria sido inspirada em uma foto da Jim Mac’s Band (banda de Jazz do pai de Paul McCartney), que mostra igualmente os membros da banda reunidos ao redor de um bumbo, acompanhados por uma turma maior.

Quem sabe até tenha sido as duas coisas? Isso só ele, o próprio Paul McCartney, poderia confirmar.




Jim Mac's Band (o pai de Paul destacado)


Jimmy Nicol, um baterista que tocou com os Beatles no auge das turnês!

 
Jimmy Nicol, nascido em Liverpool no ano de 1940, comecou sua carreira como afinador de bateria para a empresa fabricante de instrumentos musicais Boosey & Hawkes, depois se juntou a banda de apoio de Lee Curtis e por um breve periodo trabalhou com Georgie Fame em 1964. Nesse mesmo ano formou a sua propria banda, The Shubdubs, com Tony Allen (vocais), Roger Coulam (órgão), Quincy Davies (sax), Bob Garner (baixo) e John Harris (metais).

Em junho de 1964 Ringo Starr foi hospitalizado um dia antes dos beatles saírem em turnê com febre alta e amigdalite e teve de ficar hospitalizado a fim de remover as amígdalas. Jimmy, então com 24 anos, foi chamado para substitui-lo na turnê dos Beatles, que incluiria Suécia, Holanda, Oriente Médio e Austrália. George Martin foi quem sugeriu Jimmy como substituto, já que ele havia participado de um projeto chamado Beatlemania e sabia as partes de bateria de diversas músicas.

George Harrison em principio se recusou a sair em turnê sem Ringo, mas foi convencido por George Martin e Brian Epstein que Jimmy seria uma boa substituição. Paul aceitou Jimmy sem problemas, mas disse que com certeza os fãs notariam a diferença se Jimmy aparecesse em alguma gravação. Brian achou que ele "já se parecia com um Beatle".

Durante a turnê, cada vez que um dos outros perguntava como ele estava indo, se estava gostando, Jimmy sempre respondia "está melhorando" ("it's getting better"), tantas vezes que acabou virando motivo de piada e em 1967 inspirou Paul a escrever "Getting Better" para o álbum Sgt. Pepper's.

Ringo saiu do hospital dia 11 de junho e se juntou ao resto do grupo em Melbourne, Austrália, dia 14. Jimmy recebeu em pagamento £500 e um relógio de ouro com a inscrição "Dos Beatles e Brian Epstein para Jimmy - em apreciação e agradecimento" (From The Beatles and Brian Epstein to Jimmy - with appreciation and gratitude). Jimmy voltou a Londres na manhã seguinte sem se despedir dos outros Beatles, pois eles ainda se encontravam dormindo e ele não quis incomodá-los. Mais tarde Jimmy disse que "eles foram todos muito simpáticos, mas eu me senti como um invasor. Eles me receberam bem, mas não é possível ser parte do grupo assim tão facilmente - eles tem uma atmosfera e um senso de humor próprios".

No dia 12 de julho (um mês depois), os Shubdubs abriram o show para os Beatles no Hippodrome Theatre, Brighton. Jimmy disse desse reencontro: "Brian Epstein arranjou para que nós e The Fourmost tocássemos com os Beatles. Nos conversamos um pouco nos bastidores, as coisas mudaram desde a ultima vez que nos vimos. Eles foram agradáveis".

Jimmy lançou alguns singles com os Shubdubs, sendo o último "Husky"/"Don't Come Back", que nunca atingiu as paradas, e a banda se separou. Em 1965 ele tocou na banda de apoio de Peter & Gordon (Peter Asher, irmão de Jane). Nesse mesmo ano ele declarou falência, culpando um desentendimento que teve com Brian Epstein pelo seu fracasso em conseguir novos contratos. Em 1966 se mudou para a Suécia e se juntou ao grupo The Spotnicks. Mais tarde morou por algum tempo na América do Sul e Austrália, e voltou para a Inglaterra nos anos 80. Seu filho Howie trabalhou como engenheiro de som na série de documentários Anthology.

Singles lançados pelos Shubdubs/Nicol solo:
1 "Humpty Dumpty"/"Night Train" 1964
2 "Husky"/"Don't Come Back" 1964
3 "Baby Please Don't Go"/"Shub Dubbery" 1964
4 "Clementine"/"Bim Bam 1965" (lancado como Sound Of Jimmy Nicol)



A história definitiva do plágio de My Sweet Lord


My Sweet Lord tornou-se um clássico tão logo chegou às paradas de sucessos e lojas de discos pelo planeta. Não por acaso. Seu arranjo simples, vigoroso e envolvente, aliado à mensagem pacifista e divina que transmite, arrebatou um mundo que estava assistindo o final de um doce sonho.

A canção chegou num momento em que as lágrimas teimavam em não secar. Chorávamos o fim de Jimmy Hendrix, Jim Morrison e Janis Joplin, ao mesmo tempo em que lamentávamos o the end da maior de todas as bandas, Os Beatles. Estaria o Rock and Roll também nos estertores, indagavam os pessimistas?

My Sweet Lord veio como uma resposta e um lamento. A inspiração chegou para George Harrison ao ouvir atentamente o trabalho do grupo Edwin Hawkins Singers para "Oh! Happy Day". Naquela composição o ponto central estava nos vocais gospel. George foi compondo ao seu estilo, munido de um violão. Com a letra alinhavada, passou a avaliar como o mundo receberia uma canção que falasse de Deus. Temia reações negativas, sobretudo porque jamais compunha voltado para esse tema.

O que o instigava era a necessidade de levar aquilo em que acreditava, para seu público. Harrison sabia que quando "My Sweet Lord" chegasse ao mercado, modificaria algo em sua carreira. Estava certíssimo.

Quando o trabalho de estúdio iniciou, George Harrison alterou a letra original – que falava só em "aleluia." O ex-beatle incluiu o termo "hare krishna" por acreditar que ambas expressões tinham o mesmo significado. O produtor Phill Spector e os músicos que participaram da gravação disseram a George que aquele seria um hit mundial. Embora também pensasse dessa forma, George Harrison foi desapegado o suficiente, à ponto de entregar seu maior êxito da carreira-solo para Billy Preston. E Preston, por incrível que pareça, lançou My Sweet Lord antes dele! Felizmente para George, nada aconteceu com o compacto editado por Billy Preston, que fez uma versão equivocada da grande composição.

Quando a faixa ganhou execução nas emissoras de rádio, o êxito foi esse que conhecemos. Sucesso em todo o mundo, número 1 em dezenas de países, a grande alavanca de vendas do super-álbum triplo All Things Must Pass.

Não demorou porém, o início do drama paralelo à maciça aceitação de My Sweet Lord. A cabeça de George Harrison passou a ser martelada com informações que partiram inicialmente de amigos, e – depois – ganhou a mídia: a famosa composição, era plágio. E era mesmo.

"He's So Fine" entra em cena

He's So Fine é uma composição de 1963, do compositor Ronnie Mack - já falecido - e gravada pelo grupo negro americano The Chiffons. Ninguém deve sentir-se mal por não conhecê-la. A faixa não foi um hit e, curiosamente, ganhou até mais fama e execução depois da acusação de plágio envolvendo "My Sweet Lord". Os direitos autorais pertenciam à Bright Tunes Editora.

The Chiffons 

Nem de longe se pode comparar "He's So Fine" com "My Sweet Lord", portanto, em termos de qualidade da composição. George sentiu o drama ao escutar. Compreendeu com clareza que havia copiado algumas notas da canção dos Chiffons e percebeu que teria problemas. Sobretudo considerando o êxito que "My Sweet Lord" atingira. O caso ganhou repercussão e a Editora Bright Tunes entrou com ação na justiça. George veio à público e defendeu-se. Admitia o plágio, embora julgasse que o mesmo não era intencional. Penitenciou-se em programas de rádio e TV, alegando que – se mais atento – teria promovido pequenas modificações no arranjo, o que evitaria as comparações. E complicações.

George também explicava que "My Sweet Lord" era uma western song que adaptava para o popular o Maha Mantra, cântico sagrado que ele costumava entoar em suas meditações. Em 07 de setembro de 1976 aconteceu o desenlace em torno do caso. Irritadíssimo, George Harrison precisou ir à corte defender-se das acusações de plágio. Em seu livro I Me Mine ele revela sarcasticamente que o juiz que cuidou do caso dividiu a questão em dois pedaços: "Motif A" and "Motif B". O tal "Motivo A" indicava plágio nas notas iniciais e no trecho onde canta "my sweet Lord...". O "Motivo B" apontava plágio em cerca de cinco notas do trecho em que canta "really want to see you...".

George conta que cansou de ouvir no tribunal repetidas vezes as gravações de "My Sweet Lord" e "He's So Fine" para comparações. Em sua defesa o ex-beatle chegou a dizer ao juiz que 99% da música popular vinha de uma ou outra nota ou acorde que já havia sido criado. Não adiantou nada e ele foi condenado por plágio não consciente. Valor da indenização: 587 mil dólares. George recorreu para não pagar e o caso estendeu-se por anos, nos tribunais. Todas as batalhas foram perdidas e em 26 de fevereiro de 1981 – quase dez anos após o lançamento de My Sweet Lord, a indenização foi finalmente paga.

Onde Allen Klein entra na jogada

Não passa de lenda a afirmação de que Allen Klein sabia do plágio de "My Sweet Lord" e que teria enganado George Harrison de maneira vil. É igualmente inverídica a história de que Harrison teria pedido a Klein que verificasse sua suspeita de que outra composição com aqueles acordes havia sido feita antes. Mas Allen Klein efetivamente participou do episódio, ainda que por caminhos acidentais.

O ex-empresário dos Beatles já era uma figura queimadíssima no showbiz e diante dos Fab Four em 1980. Havia até passado uma temporada na cadeia por sonegação de impostos e respondia uma penca de processos na justiça – alguns dos quais movidos pelos quatro Beatles. Em 1980 porém, a empresa de Allen Klein, ABKCO, comprou a quase falída editora Bright Tunes, detentora dos direitos de "He's So Fine".

Em 26 de fevereiro de 1981, quando George Harrison pagou a indenização de 587 mil dólares da condenação por plágio contra "My Sweet Lord", quem recebeu a grana – ironicamente ou não – foi Allen Klein! E, detalhe, não havia mais nada que George pudesse fazer, já que legalmente a Bright Tunes havia sido adquirida pela ABKCO. Há mais: o caso teve muitas idas e vindas até novembro de 1990, quando finalmente foi encerrado pelo juiz da corte federal americana, Richard Owen. Ele definiu que George Harrison ficaria com os direitos autorais de "My Sweet Lord" assegurados para execução e vendagem nos EUA, Reino Unido e Canadá. Allen Klein permaneceria com os direitos de "He's So Fine" e sem poder de intervenção contra George Harrison nos países citados.

Decidiu finalmente que Harrison teria de pagar royalties à ABKCO do senhor Allen Klein no valor de 270.020 dólares, como indenização simbólica pelas execuções de "My Sweet Lord" ao longo do processo por plágio, fora do Reino Unido, EUA e Canadá. Ambas as partes aceitaram o veredicto e o assunto encerrou-se com perda financeira de 857.000 mil dólares para George Harrison, no total. E o ônus da acusação de plágio que rola até hoje.

Os porquês de My Sweet Lord 2000

Na histórica entrevista à Playboy em 1980, John Lennon falou do plágio de My Sweet Lord e criticou George. Para John, pequenas mudanças no arranjo teriam resolvido o problema. Estava certo. E George sempre martelou a própria cabeça com essa idéia. Tanto que reouvindo as fitas de All Things Must Pass durante o processo de remasterização do álbum, o ex-beatle achou que estava na hora de acertar as contas com um erro do passado. Iniciou os trabalhos de rearranjo para "My Sweet Lord" na brincadeira. Imaginava que podia fazer uma slide guitar melhor que na versão original, por exemplo. Mas o que o moveu foi a retirada dos acordes que resultaram em sua condenação por plágio.

Basicamente é por isso que existe My Sweet Lord 2000. Aos músicos de plantão no site, segue a informação de que George Harrison retirou acorde por acorde plagiado de "He's So Fine" na versão que aparece como bônus em All Things Must Pass. George teve tempo de comentar esse assunto no último disco que gravou em vida, o CD promocional A Conversation, feito no dia 15 de fevereiro de 2001 para a Capitol americana. Espero que as dúvidas em torno da questão fiquem definitivamente dissipadas. Até porque "My Sweet Lord" continua bela e eterna, apesar da passagem dos anos.

CLÁUDIO TERAN
ccsteran@noolhar.com






Encontre músicas dos Beatles nesta figura!

Encontre na imagem abaixo, referências a várias músicas dos Beatles. Quer a Resposta? A galera do grupo Beatles Brasil fez uma checagem geral e descobriu uma relação de 53 músicas dos Beatles. A resposta está abaixo da imagem.



ENCONTRAMOS AS SEGUINTES MÚSICAS:
01. A Taste of Honey: a abelha voando perto da cabine de ingressos;

02. And Your Bird Can Sing: os pássaros cantando na janela;
03. Baby's in Black: o bebê no colo da moça do lado do "Rich Man";
04. Baby You're a Rich Man: o bebê com rosto de velho com um saco de dinheiro;
05. Back in the U.S.S.R.: dois russos no carrossel;
06. Blackbird: ao lado da "she came in through";
07. Birthday: garoto dando presente pra garota/o bolo com velinhas;
08. Can't Buy Me Love: flor com a placa 'For Rent';
09. You Never Give Me Your Money: o caboclo mal encarado contando o dinheiro;
10. Carry That Weight: o cara carregando o peso;
11. Yellow Submarine: no laguinho;
12. Doctor Robert: debaixo da escada de "she came in through....", com o crachá escrito 'BOB';
13. Drive My Car: o fusca;
14. Eight Days a Week: Bar open 24/8;
15. Fixing a Hole: os caras da construtora, o trabalhador que conserta;
16. Get Back: o fusquinha voltando pela estrada;
17. Glass Onion: a cebola de vidro;
18. Hello, Goodbye: os rapazes que se cumprimentam, um acena e o outro faz tchau;
19. Help!: o cara se afogando;
20. Helter Skelter: o escorregador;

21. Her Majesty: Mulher no alto do escorregador;
22. Here Comes The Sun: Sol atrás das nuvens;
23. Here There and Everywhere: setas no canto inferior;
24. Hey Bulldog: o cachorrinho;
25. Hold Me Tight: os garotos que se esbarram;
26. I am The Walrus: a morsa no canto inferior direito;
27. I'll Follow The Sun: também pode ser o caminhão;
28. I'm Only Sleeping: o sujeito bocejando / o mendigo com a placa "Not Dead";
29. I'm So Tired: o mendigo espreguiçando;
30. I Want You (She's so heavy): a menininha pisando no balão e não o deixando flutuar;
31. Lady Madonna: Mulher com bebê no colo (ao lado do 'Rich Man');
32. Lovely Rita: mulher de amarelo com boné, bolsa a tiracolo e caderneta;
33. Maxwell's Silver Hammer: O martelo e o cara ao lado dele regulando a altura;
34. Money: bebê no carrinho com um saco de dinheiro ao lado dele;
35. Norwegian Wood: a bandeira da Noruega ao lado do sol;
36. Ob-la-di, Ob-la-da: o 'market place' ao lado do consultório do Dr. Robert;
37. Octopus's Garden: o polvo brincando de jardinagem ao lado do submarino amarelo;
38. Penny Lane: no canto inferior, numa placa;
39. Piggies: desenhados no caminhão;
40. Run For Your Life: os dois caboclinhos correndo e se trombando;
41. Savoy Truffle: o piquenique no canto inferior direito;

42. She Came in Through The Bathroom Window: a mulher entrando no banheiro pela escada;
43. She Said, She Said: o homem com a placa 'not dead';
44. She's Leaving Home: canto inferior direito a garota chorando com a malinha nas costas;
45. Strawberry Fields Forever: ao lado do cara com martelo, no canto direito;
46. Taxman: Na frente do bar com a maleta;
47. Ticket to Ride: pai dando um bilhete para o filho, na frente do 'octopus';
48. The Fool On The Hill: o palhaço na colina canto superior direito;
49. The Long and Winding Road: a estrada em direção ao sol em que o caminhão passa;
50. Think For Yourself: a garota olhando para o 'maxwell' e pensando;
51. Twist And Shout: carinha com as pernas trançadas e megafone;
52. Wait: o cara do 'twist and shout' pedindo à garota;
53. While My Guitar Gently Weeps: o cara fazendo o violão chorar;

Dorothy Rhone, a namorada de Paul McCartney na adolescência


Dorothy Rhone foi namorada de Paul McCartney ainda na época dos Quarrymen, até a primeira viagem dos rapazes a Hamburgo. Pra Paul compôs a música "P.S. I Love You". Saiba tudo sobre essa BeatleGirl, que chegou a esperar um bebê do Beatle Paul.

Dot nasceu em 1945 no distrito de Childwall, Liverpool. Ela era uma garota timida e muito introvertida. Morava junto com seus pais Jessie and Tom Rhone e 3 irmaos mais velhos, Billy, Anne e Barbara Rhone. Tom Rhone chegava em casa bêbado quase todos os dias, e chegou muitas vezes a bater em Jessie, Dot e seus irmãos. Foram tempos difíceis, que resultaram na timidez de Dot.

Em uma entrevista concedida por Dot em 1997, ela relata o quanto era tímida: "Eu me tornei uma pessoa extremamente tímida e sem confiança nenhuma. Eu raramente falava com as pessoas, principalmente com os garotos". Dot estava estudando no Liverpool Institute High School for Girls, e na época de 1950 as garotas eram proibidas de falar sobre os rapazes. De fato, elas saiam da escola meia hora antes dos garotos, para evitar qualquer contato com eles. "Eu era tão atrasada em relação aos rapazes, pra você ter uma idéia, a primeira vez que eu dancei com um garoto foi depois dos 15 anos. Minhas amigas eram bem mais avançadas do que eu".

Dot era uma garota adorável e bastante bonita, mas ela se achava sem graça e feia. "Eu nunca me achei bonita. Minha irmã costumava me dizer que o meu nariz era largo demais para o meu rosto. Uma vez eu tentei ir dormir com um pregador de roupas no nariz, querendo deixá-lo mais fino, mas não aguentei, a dor era muita". Ela era tão insegura e nervosa que na primeira vez que ela marcou um encontro com um garoto, passou mal do estômago e ficou fisicamente doente.

Foi no verão de 1959, que Dot conheceria nada mais nada menos que um grupo chamado "The Quarrymen". Dot estava no cabash com um grupo de amigas, dancando os sucessos da época, quando dois dos integrantes da banda não tiravam os olhos dela. "Eles eram maravilhosos, faziam brincadeiras no meio das músicas, tinham um super alto astral. Era impossível não se apaixonar por eles.

Eu me apaixonei pelo John. Ele tinha um rosto bem másculo, enquanto o Paul era bonito de uma forma mais suave, com traços mais suaves. O John era o cara, ele dominava, ele era muito legal, me chamava de "Bubbles". Já o Paul era o cara doce. E o John não era tão agressivo como dizem". Dot descobriu que o John já tinha namorada (Cynthia Powell), então ela resolveu dar atenção ao Paul, o qual foi bem devagar pra chamá-la pra sair com ele.

"Eu me lembro que estava dançando em um clube, quando de repente eu comecei a me sentir mal, então resolvir sair do clube pra tomar um pouco de ar fresco. O Paul me seguiu, me abraçou e disse que eu iria ficar bem, daí ele me perguntou se eu gostaria de sair com ele. Eu fiquei vermelha, mas acabei aceitando numa boa. Acho que nosso primeiro encontro foi em Penny Lane, pois era um ponto bem próximo de nossas casas". Dot ficou super nervosa nesse primeiro encontro com o Paul, mas ele a deixou bem relaxada, contando histórias das suas horrorosas visitas ao dentista.

E ao levá-la ate o ponto de ônibus, Paul deixou bem claro que tinha adorado o encontro e que gostaria de vê-la novamente no Cabash Clube. Dot se apaixonou completamente por Paul a partir de então. "Eu costumava me encontrar com minhas amigas e elas achavam super legal eu estar saindo com alguem tão 'cool' como o Paul. Ele tinha o cabelo cumprido, mais cumprido do que os outros caras de Liverpool, e eu me sentia meio que rebelde por estar saindo com ele. Nós costumávamos a ir ver os outros grupos de Rock'n'Roll e eu me sentia diferente por estar nesse meio. As outras garotas costumavam a se sentar num canto e os garotos em outro, mas eu era diferente, eu me sentava na roda do Paul, junto do George, John e a Cynthia".

Não demorou muito para o Paul se tornar possesivo em relação a Dorothy. "Ele era tão possesivo e controlador! Queria ter controle sobre tudo, sobre minha aparência, o meu cabelo, o modo como eu me vestia, ele queria que eu estivesse sempre impecável. É ate vergonhoso eu dizer isso agora, mas naquela época eu era o cachorrinho dele, fazia tudo o que ele me mandava. Jamais faria isso nos dias de hoje. Ele chegou até a me dar uma lista de coisas que eu não deveria fazer. Uma delas era sair com minhas amigas. E quando nós saíamos juntos, eu era proibida de fumar, embora ele fumasse. Acho que essa não era a imagem que ele queria que a sua namorada tivesse. Ele queria que eu me vestisse de preto e tingisse o meu cabelo de loiro. Até chegou a pagar para eu ir no cabeleireiro. Mas o meu cabelo ficou horrível, e quando ele me viu, ele disse: 'Tá vendo só o que te fizeram? Você não deveria ter deixado eles te estragarem o cabelo! A culpa foi toda sua. E quer saber? Me liga depois que seu cabelo tiver crescido. Coisas desse tipo iriam acontecer frequentemente".

O Paul chegou a adimitir esse seu temperamento em uma de suas biografias: "Naquela época, todos os garotos estavam tentando fazer com que suas namoradas se parececem com a Brigitte Bardot. John e eu tínhamos uns papos de querer que nossas namoradas fossem a Brigitte Bardot de Liverpool, eu tinha uma namorada chamada Dot e o John a Cinthya. Nós então as fizemos pintar os cabelos de loiro e a vestir mini-saias. Era terrível, mas era assim que as coisas eram naqueles tempos".

Mas não era só de possessões que o namoro de Dot e Paul se sustentava. Paul tinha também um lado generoso, e costumava comprar roupas finas para Dot, assim que a banda ganhava uns trocados. Paul estava querendo ir um pouco mais a fundo em sua relação com Dot, mas sendo virgem, Dot tinha que lutar para resistir ao charme do Paul. "Depois de alguns meses de namoro, o Paul me levou pra sua casa em Forthlin Road. Eu menti para meus pais que estava indo dormir na casa de uma amiga. O pai do Paul não estava em casa, então nós tínhamos a casa só para nós dois. Eu estava morta de medo de que alguém chegasse de sopetão, flagrando-nos na hora H. Paul foi doce e carinhoso e eu apenas senti, que aquela era a hora de me entregar".

Dot não só se apaixonou por Paul, mas como também por toda a familia McCartney. "A família do Paul era tão unida, tão diferente da minha... eles tinham festas de Natal, o Paul tocava guitarra enquanto Jim tocava piano, e as tias do Paul eram maravilhosas comigo também".

Em fevereiro de 1960, Dot estava com 16 anos de idade, e tinha acabado de engravidar do Paul. "A minha mãe estava chocada! Ela era uma dessas pessoas que se importavam com o que os vizinhos iriam pensar. Queria que eu fosse morar com minha irmã em Machester por um tempo, até a criança nascer, e queria que eu colocasse o bebê para adoção. Já o Jim, pai do Paul, me deu o suporte que eu precisava e disse para minha mãe que o bebê foi feito num ato de amor. O Jim começou a fazer os planos para nos casarmos e tudo mais. Iria ser apenas no cartório, nada muito caro, porque nenhum de nós tinha dinheiro. Estava tudo arranjado, eu iria morar na casa do Paul em Forthlin Road. O pai do Paul estava sendo tão legal comigo! A minha mãe dizia pra ele que seria terrível os vizinhos me verem empurrando um carrinho de bebê, enquanto ele dizia que estaria orgulhoso de mim empurrando um carrinho de bebe". Mas depois de 3 meses grávida, Dot foi em meio a lágrimas para o hospital, onde teve um aborto natural. Depois de alguns minutos, Paul chegou no hospital com flores para animá-la um pouquinho.

"Ele (Paul) me pareceu um pouco chateado e triste, mas eu sabia que por dentro nós dois estávamos aliviados, e olhando pro passado hoje, eu sei que nossa relação nunca iria ter dado certo". Depois de alguns meses que Dot teve o aborto, os rapazes decidiram ir pra Hamburgo. Dot, que já era bem amiga da Cynthia, iam visitá-los frequentemente na Alemanha.

Paul comecou a trair Dot em Hamburgo. "Eu ia muito na casa do Paul visitar o pai dele, e um belo dia eu vi uma carta de amor de uma garota alemã, mas estava escrito em inglês. Lá ela dizia o quanto tinha adorado a noite de amor. Eu fiquei devastada e a única pessoa que tinha pra me desabafar era a Cynthia. Nós passávamos horas escrevendo cartas pra eles, e às vezes nos vestíamos com roupas legais, nos maquiávamos pra tirar fotos e mandar pros garotos".

Mesmo sendo traída por Paul em Hamburgo, Dot recebia cartas de amor do mesmo, quase que diariamente. Mais tarde a musica dos Beatles PS. I Love You, foi escrita para ela. Mas depois da chegada dos rapazes a Liverpool, Dorothy sabia que as coisas estavam mudando. Eles (Beatles) estavam ficando cada dia mais famosos e o assédio crescia cada vez mais. "As garotas chegavam até mim perguntando como o Paul era. Um dia eu fui até a casa do Paul e tinha uma garota lá limpando a cozinha. O pai dele me disse que ela estava esperando pelo Paul há horas, então ele decidiu chamá-la pra dentro de casa e ajudá-lo na limpeza. As meninas costumavam levar coisas da casa do Paul também: isqueiros, cinzeiros, garfos... tudo que você pode imaginar".

No final de 1961, Paul comecou a visitar Dot cada vez menos, e quando os dois se encontravam, brigavam. "O John falava pro Paul ser mais legal comigo e o Bian não queria mais que eu fosse nos concertos dos Beatles, por causa das fans. Eu obedecia, mas sabia que o Paul estava cada vez mais se distanciando de mim. Um dia ele apareceu em casa de sopetão. Eu tinha bobby nos cabelos, uma calça de pijama, enfim, estava horrorosa. O Paul simplesmente disse que nós estavamos saindo já há algum tempo e que de agora em diante seria casar ou se separar. Ele me olhou nos olhos e disse que não estava pronto pra se casar, então eu comecei a chorar freneticamente. Como ele podia fazer isso comigo depois de 3 anos juntos? Mas no fundo eu sabia que nossa relação não iria longe".

Quando Cynthia engravidou, Dot se mudou para o mesmo prédio de Cyn, para cuidar dela. Eu sempre via o Paul, e e uma ocasião ele me levou pra dentro do carro e comecou a me beijar e tudo mais. Mas depois que ele viu minha meia calca brilhante, não gostou do modelo e pediu pra eu sair do carro. Como eu disse antes, aparência era tudo pra ele. Ele era superficial. É claro que as pessoas mudam, mas ele me fez sofrer. Eu chorava dia e noite depois da nossa separação. Demorou uns 4 meses pra eu me repor da dor".

Em 1964 Dot se mudou para o Canadá, e depois de 4 dias de sua chegada ela encontrou seu futuro marido, um alemão alto chamado Werner Becker. Com ele teve 3 crianças. A sua primeira filha se chama Astrid, uma homenagem à sua amiga alemã de Hamburgo. Um ano depois de se mudar para o Canadá, Dot encontrou o Paul, junto com os Beatles, que estavam indo tocar no país. E anos mais tarde Paul mandou um Rolls Royce ir buscá-la junto de sua familia para prestigiar um concerto dos Wings, onde Dot conheceu a então Sra. McCartney, Linda. E o passado dos dois ficou apenas na memória.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Klaatu: a volta dos Beatles sob um codinome?


No dia 3 de agosto de 1976, a Capitol liberou um álbum anônimo pelo grupo Klaatu. A lista de músicas era a seguinte:

- Calling Ocupants Of Interplanetary Craft
- California Jam
- Anus Of Uranus
- Sub Rosa Speedway
- True Life Hero
- Doctor Marvello
- Sir Bodsworth Rugglesby III
- Little Nevtrino

A música deles era agradável, meio pop, com referências psicodélicas da era Sgt. Pepper, assemelhando-se a outros artistas do período, como Pink Floyd, ELO, Yes e Queen. Eles permaneceram como um grupo obscuro até 1977, quando Charlie Parker, um DJ da WDRC em Providence, Rhode Island, jogou uma das faixas em seu programa. Centenas de ouvintes telefonaram, convencidos que ele tinha tocado um disco dos Beatles novo.

Um artigo por Steve Smith no Providence Journal se seguiu dizendo que aquele Klaatu eram os Beatles. Ele sugeriu que haviam umas 150 pistas e pequenas evidências que apontavam uma 'Konspiração Klaatu':

- Uma Universidade de Miami fez um teste de voz com o disco do Klaatu e gravações de McCartney que provou que os vocalistas eram os mesmos.

- Um disc jockey australiano apareceu com evidências para concluir que o álbum do Klaatu era um álbum não lançado dos Beatles chamado 'Sun' (a capa do 'Klaatu' mostrava um sol sorridente).

- Tocando 'Sub Rosa Subway' ao contrário, usando um oscilador de frequência de baixa rotação e filtros, revelou a mensagem "Somos nós, somos os Beeeeatles!".

- Na capa do seu Goodnight Vienna, a cabeça de Ringo Starr foi mostrada sobreposta ao corpo de um personagem do filme O Dia em que a Terra Parou. O nome do personagem? Klaatu! A conexão foi engendrada pelo material promocional da Apple para Goodnight Vienna, que dizia: "Não Esqueça: Klaatu Barada Nikto". Esta frase era a 'senha' que fazia o robô-guarda da nave reconhecê-lo (Klaatu), tanto que ele ensinou essa frase para a garota, assim o robô não a machucaria.

Não havia nenhum informação biográfica na capa, enquanto o empresário do grupo, Frank Davis, quando perguntado diretamente se o Klaatu eram os Beatles, recusou confirmar ou negar o rumor.

Igualmente, a Capitol, longe de negar as alegações, foi tão vaga quanto o artigo do Providence Journal, e em 8 semanas o álbum tinha vendido 300.000 cópias.

Depois, os membros do grupo foram identificados como os músicos de estúdio canadenses John Woloschuk (também conhecido como L.M. Carpenter), Terry Draper e David Long, mas apesar disto, a Saga Klaatu continuou, especialmente na Austrália, onde o Beatle fã John Squires emitiu uma brochura de 34 páginas chamada Por Trás de Um Codinome: A Reunião Secreta dos Beatles. Mas a essa altura, ninguém acreditava mais nessa história. A canção mais famosa do grupo, "Calling Occupants Of Interplanetary Craft", recebeu um cover do Carpenters, chegando aos Top 40.


Kum back, o Primeiro bootleg dos Beatles


Em 1969, antes da separação dos Beatles, um acetato com as primeiras mixagens em estéreo de Glyn Johns com as gravações do projeto Get Back/Let It Be caiu nas mãos de várias rádios ao redor dos EUA. Tracklist da fita:

Lado A:
1. Get Back
2. The Walk
3. Let It Be
4. Teddy Boy
5. Two of Us

Lado B
1. Don't Let Me Down
2. I've Got A Feeling
3. The Long and Winding Road
4. For You Blue
5. Dig A Pony
6. Get Back (reprise)

Até o final daquele ano, antes mesmo do álbum Let It Be ser lançado, várias cópias do bootleg Kum Back já estavam em circulação no mercado alternativo. Interessava aos fãs e colecionadores por apresentar canções que antes não haviam sido lançadas oficialmente em nenhum disco.

Depois desse lançamento, o mercado bootleg despejou centenas de álbuns novos por ano (até hoje material "inédito" é lançado, em menor quantidade, é claro). Mas esse entrou para a história por ter sido o primeiro lançamento dos Beatles, com músicas inéditas, sem o conhecimento deles próprios.



O dia em que George Martin acabou com o Wings


Contrariando o que a grande maioria possa pensar, o Wings não acabou com a prisão de Paul McCartney no Japão em janeiro de 1980. Naquela época, os membros da banda ficaram realmente furiosos e experimentaram a frustração de não ganhar o dinheiro por uma turnê para a qual haviam ensaiado tanto. Os shows no Reino Unido em dezembro de 1979 haviam sido meros ensaios gerais para algo que pretendiam rolar mundo afora em 1980, repetindo o giro global que Paul havia feito entre 1975 e 1976. Denny Laine foi o mais decepcionado com o vacilo dos McCartney, que desembarcaram no aeroporto de Tóquio portando um saco cheio de erva.

Paul ainda estava na cadeia, quando Denny e os demais membros Laurence Juber e Steve Holly voltaram pra Inglaterra juntamente com o restante dos músicos de apoio e a equipe da turnê. Desesperado com a falta do dinheiro que nunca recebeu, e para comprar a casa própria que aquela grana teria lhe garantido, ele resolveu fazer um novo álbum solo. McCartney autorizou que Denny utilizasse três faixas suas que o Wings gravara nos anos 70 e nunca lançara em seus discos, e Denny finalizou com algumas novidades e soltou a bomba: "Japanese Tears", numa forte referência à decepção japonesa.

Ao retornar da prisão, após algumas semanas, McCartney trancou-se na sua fazenda na Escócia e acabou resolvendo fazer um disco ocasional com as demos que havia gravado sozinho no verão de 1979. Originalmente duplo, "McCartney II" trazia as melhores demos de um disco que o Wings certamente teria gravado após a turnê melada pela maconha. Os amigos que haviam escutado as demos de Paul vinham insistindo para que ele as lançasse naquele formato, então ele uniu o útil ao desagradável e soltou o LP. "Coming Up", o primeiro single, já vinha sendo tocada ao vivo pelo Wings e uma versão gravada com a banda em Glasgow ocupou o lado B e chegou a ser melhor trabalhada nas rádios americanas. Naquele verão de 1980, um clip de "Coming Up" com Paul fazendo praticamente todos os papéis numa banda (Linda fez alguns outros) surpreendeu o mundo. "Waterfalls" veio a seguir, numa época em que Paul já tratava de reunir o Wings.

No segundo semestre de 1980, com "Coming Up" estourada mundo afora, McCartney e sua banda reuniram-se num estúdio para ensaiar e também para gravar algumas demos, já pensando na pré-produção do próximo álbum. Mas McCartney também vinha trabalhando, homeopaticamente como sempre, num desenho animado com o personagem Rupert - cujos direitos ele havia adquirido no início dos anos 70, quando inaugurara sua MPL. Paul gravara uma nova demo com o tema "We All Stand Together" e outras pérolas, e chamara o velho amigo e produtor George Martin para produzir a gravação.

Martin, que era um dos grandes amigos de Paul, já havia feito o arranjo e produzido "Live And Let Die" para a trilha de 007 que lhe havia sido incumbida pelos produtores da série (o restante do LP traz orquestrações de Martin e pode ser considerado um disco seu). "We All Stand Together" foi gravada nos últimos dias de outubro de 1980 e, na seqüência, Paul perguntou a Martin se não gostaria de produzir seu novo disco.

Martin foi categórico: "Somente se eu puder realmente produzir, com autonomia até pra escolher 'bons músicos' pra te acompanhar". McCartney entregou-lhe sua demo, que incluía absurdos como "Boil Crisis", e foi pra casa esperar o veredito. Dito e feito, quando McCartney começou a gravar com Martin - em novembro de 1980, faixas que comporiam os LPs "Tug Of War" (82) e "Pipes Of Peace" (83) e uma série de lados B, somente Denny Laine pôde participar. Denny estava presente no estúdio no dia 9 de dezembro, quando a repercussão da morte de Lennon fez com que McCartney mergulhasse ainda mais no trabalho. Àquela altura, Laurence e Steve ainda esperavam ser chamados para as sessões, mas sabiam que tudo ficara meio no ar depois do assassinato do ex-parceiro de seu patrão.

Passado o Natal de 1980, Paul e a família acompanharam Martin e família na viagem que o velho produtor fazia para passar o reveillon e seu aniversário no Caribe. McCartney resolve então continuar as gravações no moderníssimo AIR Studios inaugurado por Martin na Ilha de Montserrat, e convidados ilustres como Stevie Wonder, Ringo Starr, Carl Perkins e o baixista Stanley Clarke são agendados para gravar entre janeiro e fevereiro daquele novo ano de 81. Ali caiu a ficha de Steve e Laurence, que compreenderam que somente Denny estava nos planos de Macca - e tão somente como músico, pois o disco em que vinha trabalhando era um novo álbum solo - dando prosseguimento à nova fase solo, iniciada incidentalmente com "McCartney II". O mundo já sabia que o Wings havia acabado, pelas aparências, mas os dois músicos foram os penúltimos a saberem. Porque o último, como o tempo provou, acabou sendo Denny Laine - o qual, depois de tocar naquelas diversas sessões, encerrou sua ligação com McCartney participando da gravação de "All Those Years Ago", que George Harrison fizera para homenagear Lennon e que contaria com os toques de Paul, Ringo e George Martin, além de Linda e Denny.

O fim do Wings foi anunciado oficialmente no final de abril de 1981. Denny Laine manteve-se calado por mais de dois anos, mas no final de 1983, quando a segunda metade daquele álbum solo de Paul saiu, ele vendeu sua história para um tablóide britânico malhando o ex-patrão e sua equipe. Publicada em capítulos diários pelo jornaleco, a história de Denny afastou-o definitivamente de McCartney - ainda que nos anos 90 eles tenham se reencontrado. Mas nem Denny nem os demais membros do Wings fizeram qualquer participação no projeto Wingspan, de 2000. Talvez todos tenham saído aborrecidos da banda de McCartney.

Por Marcelo Fróes

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Os Instrumentos dos Beatles: Guitarra Gretsch Duo Jet


"Minha primeira boa guitarra foi a Gretsch Duo Jet. Não era fácil conseguir uma guitarra americana em Liverpool em 1960 por causa da severa deficiência no suprimento e, mais importante ainda naqueles tempos, insuficiência de dinheiro. Um dia, numa edição do Liverpool Echo, vi um anúncio na seção For Sale onde um marinheiro, que a tinha comprado na América, a colocou à venda.

Só Deus sabe como consegui juntar 75 libras economizando o que eu estava começando a ganhar tocando... parecia uma fortuna! Me lembro de ter o dinheiro no bolso e pensar 'Espero que ninguém me assalte!'. Corri ao endereço indicado no anúncio e voltei pra casa como um muito satisfeito proprietário de uma Gretsch. Foi minha primeira guitarra americana de verdade e eu te digo - era realmente de segunda-mão, mas eu a poli direitinho. Estava muito orgulhoso de tê-la." - George Harrison

Era 1961. George acabara de comprar uma Gretsch 6128 "Duo Jet" de 1957. Usou essa bela e robusta guitarra nos primeiros singles, nas sessões do Please, Please Me e em inúmeros shows em Hamburgo, no Cavern, no Casbah e por concertos pela Inglaterra até meados de 1963. Depois disso ela ainda foi levada em excursões pela Europa e América como back-up.

Depois daquelas turnês a guitarra foi presenteada a Klaus Voormann, que trocou um captador e ficou com ela por mais ou menos 20 anos, quando a devolveu a George. Em 1986 ou 1987 ela foi levada ao luthier Roger Giffin para um trabalho de reabilitação. Toda a fiação foi refeita e dois captadores DeArmond iguais aos originais foram colocados. George voltou a usá-la em 1987 nas gravações de Cloud Nine, com a qual aparece na foto da capa.


Especificações

Número de série:
21179

Cor:
Preta.

Escudo:
Prata.

Corpo:
Mogno semi-sólido (oco), com "top" arqueado em maple.

Braço:
Mogno.

Escala:
Jacarandá da Bahia (mesmo!), 628mm.

Marcadores de posição:
Retangulares com uma corcova, em celulóide imitando madrepérola (característica única das Duo Jet de 1957).

Filetes:
Branco e preto no corpo, braço e paleta (mão).

Tarraxas:
Grover StaTite.

Captadores:
 Dois DeArmond Dynasonics.

Controles:
Volume para cada captador, tom, volume master e chave de seleção de 3 posições.

Ponte (cavalete):
Barra contínua (Não original).

Tremolo:
Bigsby com recorte em V (Não original).

Knobs:
Metálicos, marcados com um "G" atravessado por uma flecha (introduzidos em 1957).

Por Carlos Assale

Que é Sir Walter Raleigh, da música "I'm So Tired"?


Na canção "I'm so Tired" de autoria de Lennon, e fantásticos backing vocals de Paul, nos deparamos com o seguinte verso: "...although I'm so tired I'll have another cigarette and curse Sir Walter Raileigh. He was such a stupid git". Pois bem, a tradução literal resulta em: "embora eu esteja tão cansado fumarei outro cigarro e amaldiçoarei Sir Walter Raileigh. Ele foi um tremendo babaca".

Afinal, quem na verdade foi Sir Walter Raileigh? Por que Lennon o amaldiçoaria?

Bem, alguns fatos devem ser considerados:

1. Para uma grande maioria de fãs ou apreciadores do trabalho dos Beatles, isso tem pouca relevância;

2. Fãs mais engajados acreditam que a pessoa em referência na verdade pouca importância tem no cenário da canção em si, visto que as mesmas acreditam que o nome "Sir Walter Raleigh" é apenas e tão somente uma marca refinada de fumo para caximbos e se contentam com tal lógica. Acreditam que Lennon tenha feito a referência apenas a uma marca e nada mais.

Na realidade, e aí é onde reside a relevância histórica tanto da canção como a referência histórica que a mesma possui. Lennon cita o nome Raleigh por, entre outras coisas, ter sido ele o responsável pela introdução do tabaco do Novo Mundo (mais precisamente, proviniente da Colônia de Virginia), no Velho Mundo (mais precisamente Inglaterra), e daí para o mundo. Podendo se concluir que dessa introdução nasceu o cigarro. Onde se justifica a colocação de Lennon.

Sir Walter Raleigh é também citado como sendo um "git" (babaca, idiota etc.), por ter sido um notório "puxa-saco" da Corte Inglesa. São famosas as passagens que narram como Sir Walter, de forma galantesca, atirou sua capa (manto) sobre uma poça de lama, para que a Rainha Elizabeth I não sujasse os pés. Diz-se também sobre o mesmo teria utilizado um diamante para rabiscar versos na vidraça de uma janela para chamar a atenção da Rainha. Quaisquer que tenham sido os motivos, Walter Raleigh acabou ganhando o título de "Sir" apesar de sua origem camponesa.

Outro fato sobre Walter Raleigh: logo após a introdução do tabaco no Velho Mundo, ganhou a gratidão dos médicos de todas as partes da Grã-Bretanha.

Tantos obséquios renderam-lhe uma patente da Rainha dando-lhe permissão para explorar a Ilha Roamoke (atualmente, o estado da Carolina do Norte, nos EUA), exploração que resultou em fracasso e consequente comprometimento de imagem perante a Coroa Britânica. Chegou a vender seus direitos de patente em 1558 para uma empresa mercante, após reconhecer sua derrota.

Outros fatos que marcaram sua decadência:

· Tornou-se ateu em 1590 para poder ter acesso aos mesmos lugares frequentados pelos regentes do país (um grande negócio na época, pois só frequentavam tais lugares aqueles que fossem da mesma religião do regente).

· Seduziu uma dama de honra da Rainha, chamada Bess Throckmorton, o que levou ambos a serem trancafiados na Torre de Londres por um curto tempo e em celas separadas, e quando libertados, por força de várias cartas por ele enviadas à Rainha sempre a enaltecendo e a lisonjeando, foram obrigados a se casar.

· Depois de casado foi morar na propriedade de Walter Raleigh, a qual em tempos mais felizes, costumava a ela se referir como tendo sido "extorquida do Bispo de Salisbury através de uso inescrupuloso da influência real". Foi expulso de tal propriedade pelo próprio Bispo em 1602.

· Foi acusado de conspirar contra o novo Regente, James I. Novamente foi enviado à Torre de Londres, tendo sido esse um dos pontos mais baixos de sua vida (tentou até o suicídio, mas até nisso fracassou).

· Fora da Torre de Londres novamente, em troca de promessa de encontrar ouro na América do Sul sem perturbar os espanhóis, empenhou expedição fracassada, tendo contraído uma febre que quase o levou à morte, e tendo seu filho assassinado pelos espanhóis.

· Voltou à Inglaterra somente para ser executado em 29 de outubro de 1618.

Em tempo: em homenagem a personagem tão pitoresco, a cidade mais importante do chamado "Triangulo de Pesquisa da Carolina do Norte", compreendendo Durham e Chapel Hill chama-se Raleigh.

Isso é apenas um demonstrativo de como um nome ou uma referência numa canção dos Beatles podem levar a uma viagem por pelo tempo e espaço. E, em especial nessa canção, talvez ao início da história do cigarro, que muito tem a ver com John Rolfe e sua esposa Pocahontas. Mas isso fica para uma outra oportunidade!

Por Sergio Machado

James Fiorini lança livro com sua história de encontros com Paul McCartney


Ter contato direto com um beatle é uma experiência capaz de mudar a vida do fã, e tem sido assim desde os anos 60. Com a sequência de visitas de Paul McCartney e Ringo Starr ao nosso país, desde 2010, essas histórias tem se multiplicado.

Os músicos e fãs James e Felipe Fiorini, pai e filho, viveram isso de maneira intensa, em 2014: James Fiorini vem tentando conseguir um autógrafo de Paul desde Porto Alegre, e para isso não poupou esforços (e gastos): hospedagem em hotéis caros, passagens aéreas, horas de plantão carregando seu baixo Hofner e muita pesquisa.  Tal perseverança trouxe algumas frustrações, desânimo e desistências.

Mas já foi dito que “o sucesso é uma coleção de fracassos” e após dois anos de hibernação da Beatlemania, em 2014 James voltou à ativa a todo vapor, com o objetivo ainda mais fortalecido e contando com um companheiro/aliado importante: seu filho Felipe. Através de um planejamento minucioso, que incluiu até a confecção de um uniforme azul de Sgt. Pepper, seguiram novamente rumo ao objetivo: conseguir “chegar junto” e voltar com o instrumento autografado.

Essa história, com muito mais detalhes, é narrada no recente lançamento, o livro The Long And Winding Road, auto-financiado pelo próprio James Fiorini. Em pouco mais de 100 páginas, várias situações, locais e personagens são recordados, em uma narrativa às vezes bastante emocionada. Segundo James, o livro é de tiragem limitada e não será comercializado, tendo distribuição feita apenas para os amigos conquistados nessa ‘longa estrada da vida’, via Correios.

O final é feliz e hoje o Felipe é o feliz proprietário de um baixo Hofner autografado por Paul McCartney. James de um violão autografado pela banda (Rusty Anderson, Abe Laboriel Jr, Paul Wickens e Brian Ray).  Ganharam também uma bela história pra contar e lançaram um belo livro, que já entrou para a história da Beatlemania Nacional.

PS: Não posso deixar de lembrar, com muito orgulho, que o Portal Beatles Brasil é citado como importante fonte de pesquisas em momentos cruciais da aventura, e até mesmo uma foto minha (com James e minha esposa) aparece no livro.

Por José Carlos Almeida

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A briga entre John Lennon e Todd Rundgren

Em 1974, Todd Rundgren desfrutava da fama. Seus trabalhos com sua banda original, Nazz (nome tirado de uma música dos Yardbirds), fortemente influenciados por Beatles, Stones e pela sonoridade pop/rock britânica, haviam sido bem recebidos - uma música palatável, que teve como principais sucessos "Hello, it's me" e "I saw the light".

Em 1974, Rundgren acabava de lançar seu primeiro álbum solo, intitulado Todd. Elogiado pela mídia principalmente devido a sua múltipla atuação (Todd cantava, tocava diversos instrumentos e produzia seus álbums, bem como o de outros artistas - chegou mesmo a trabalhar com Badfinger, na produção do álbum "Straight Up") e adorado pelos fãs, o cantor começou a adotar uma postura mais agressiva e supostamente rebelde - pintou seu cabelo em um monte de cores diferentes, fazia performances extravagantes em seus shows, e suas músicas passaram a flertar com o rock progressivo e com sonoridades experimentais. A experimentação durou por pouco mais de 2 anos - em 1976, Rundgren já voltava ao rock, tendo inclusive regravado "Strawberry Fields Forever" em seu álbum "Faithful", cuja capa as más línguas diziam imitar a do Álbum Branco.

Mas, voltando a 1974... Como parte da postura "bad boy", Todd resolveu "chutar o pau da barraca" numa entrevista a revista Melody Maker, em fevereiro de 1974. A reportagem começava com Rundgren detonando John Lennon - que ele dizia não ser "um revolucionário", mas sim "um idiota". "Tudo o que ele quer é chamar a atenção para ele, e se a revolução lhe der essa atenção, então ele vai ter atenção através disso", dizia Todd. E completava: "Bater numa garçonete no Troubador - que tipo de revolução é essa?". Para piorar, Rundgren comparava John ao presidente americano Richard Nixon: "[Lennon] é uma figura importante, é claro. Mas Richard Nixon também era. Nixon era como o John Lennon de uma outra geração. Alguém que representava todo tipo de ideais, mas que, na verdade, só queria se promover".

Como se não bastasse, Todd Rundgren ainda soltou um veneno sobre os Beatles, quando falava de sua primeira banda, Nazz: "Os Beatles não tinham outro estilo além de ser os Beatles. A Nazz fazia rock pesado e também baladas leves e bonitas, e baladas complexas. E naquela época, isso era algo que as pessoas não faziam". (Tá bom, Todd...) Além disso, quando perguntado sobre a contribuição do rock'n'roll para a Revolução, ele espetou John Lennon mais uma vez, dizendo que muitos só visualizavam isso "de uma forma muito óbvia". E fecha a tampa com sua opinião a respeito da violência: "Você tem que entender a violência para fazer uso adequado dela. (...) Algo acontece, e as pessoas sentem um impulso de violência. Isso é porque elas não entendem a violência. Não entendem seu uso, desuso ou mal uso. No fim das contas, não há bom ou mau, mas há coisas desejáveis e indesejáveis. Todas as coisas têm sua função, e a violência tem seu lugar".

As declarações espalhafatosas de Todd Rundgren levaram John Lennon a redigir uma resposta, publicada também na Melody Maker. Com seu estilo sarcástico e ácido, numa carta intitulada "An open lettuce to Sodd Runtlestuntle", John rebatia as opiniões de Rundgren, chamando o cara de Sodd, Dodd e Rodd (e até mesmo de Turd - que significa cocô - e Godd, trocadilhos no melhor estilo "lennoniano"), zoando o cabelo colorido... até terminar em grande estilo, não falando em violência, mas sim com uma "declaração de amor" a Todd. Na tradução, um pouco do humor incisivo se perde, mas era algo assim:

ALFACE ABERTA A SODD RUNTLESTUNTLE.
(do dr. winston o'boogie)

Não pude resistir em acrescentar algumas "ilhas de verdade", em resposta ao gemido de ódio (dor) de Turd Runtgreen.

Querido Todd,
Eu gosto de você, e de alguma coisa do seu trabalho, inclusive "I Saw The Light", que não é muito diferente de "There's A Place" (Beatles), em termos de melodia.

1) Eu nunca disser ser um revolucionário. Mas posso cantar sobre o quer que eu quiser! Certo?

2) Eu nunca bati numa garçonete no Troubador. Mas eu realmente agi como um idiota, eu estava muito bêbado. Então, shoot me!

3) Acho que todos procuramos atenção, Rodd. Você realmente acha que eu não sei atrair atenção sem "revolução"? Eu poderia tingir meu cabelo de verde e rosa, só para começar!

4) Eu não represento ninguém, a não ser a mim mesmo. Parece que eu representava algo para você, ou você não seria tão violento comigo. (Seu pai talvez?)

5) Sim, Dodd, a violência vem por caminhos misteriosos, (...) inclusive verbais. Mas você conhece esse tipo de jogo mental, não é? É claro que sim.

6) Então a Nazz fazia "rock pesado" e então DE REPENTE uma "balada leve e bonita". Que original!

7) O que me leva aos Beatles, que "não tinham outro estilo além de ser os Beatles"!! Isso cobre muitos estilos, cara, inclusive o seu, ATÉ HOJE... Sim, Godd, a coisa que aqueles Beatles realmente fizeram foi afetar as MENTES DAS PESSOAS. Talvez você precise de mais uma dose? Alguém me mostrou sua música - rock and roll pussy song, mas eu nunca notei nada. Acho que o motivo de você estar p... comigo é que eu não sabia quem você era no Rainbow, em Los Angeles. Lembra daquela vez em que você veio com Wolfman Jack? Mais tarde, quando eu descobri, eu praguejei porque queria te dizer o quanto você era bom. (Eu tinha escutado no rádio.) De qualquer forma, não importa o quanto você me magoe, querido, eu sempre amarei você,

J. L.
30 de setembro de 1974

PS: A única coisa triste nisso tudo é que há quem diga que essa troca de farpas entre Rundgren e Lennon pode ter contribuído para a atitude demente de um jovem americano, fã obcecado de Todd, que em 8 de dezembro de 1980 dirigiu-se ao Edifício Dakota para pôr fim brutal ao sonho de uma geração.



Aplicativo da Rádio Beatles Brasil (Android) alcança 1.000 downloads no Google Play

A cada dia aumenta o número de pessoas que acessam o Portal Beatles Brasil e a Rádio Beatles Brasil pelos dispositivos móveis, principalmente o Android. Pensando em facilitar a vida do nosso público, foi desenvolvido o aplicativo Android, disponível gratuitamente no Google Play. Às vésperas de completar 1 ano de existência, o marcador da plataforma que o hospeda marca no momento exatamente 1.077 downloads - ou seja, pouco mais de mil pessoas o instalaram e podem ouvir a programação pelo celular.

A programação da Rádio Beatles Brasil é formada basicamente por gravações oficiais e raras dos Beatles, John, Paul, George e Ringo (em carreiras solo), além de bandas cover nacionais, artistas contratados pela Apple, versões feitas por artistas conhecidos e obscuros, além de gravações ao vivo, feitos nos shows de Paul e Ringo no Brasil. Também pode-se ouvir, em determinados horários, diariamente, programas como o Beatlemania (comandado por Beto Neves) e Magical Mystery Club (do Gabriel Cardoso).

Baixe e instale o aplicativo no seu dispositivo móvel pelo Google Play:
https://play.google.com/store/apps/details?id=appinventor.ai_itabuna.RadioBeatlesBrasil2&hl=pt_BR

Outra maneira de ouvir é através do site Rádios.com.br:
http://www.radios.com.br/aovivo/Radio-Beatles-Brasil/24819

E, claro, através do endereço principal do Portal Beatles Brasil:
http://www.thebeatles.com.br


domingo, 25 de setembro de 2016

"Free as a bird" e "Real love", as canções póstumas



Durante o projeto Anthology, que contou a trajetória dos Beatles através de depoimentos dos próprios envolvidos, veio a idéia de que os três remanescentes à época produzissem algo inédito para acompanhar o documentário. E, ao invés de música incidental, como foi cogitado, resolveram gravar novas canções. Mesmo com a ausência de John Lennon, todos os quatro estariam novamente juntos em novas gravações, graças à tecnologia digital.

Para isso, duas velhas demo tapes de Lennon foram entregues por Yoko Ono para que Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr trabalhassem. O resultado veio na forma das canções "Free as a bird" e "Real love", músicas de elevada beleza. Consta que outras faixas foram trabalhadas, mas o resultado não agradou ao trio, que preferiu lançar oficialmente apenas as duas canções citadas. O que, em se tratando de material inédito dos Beatles, não seria pouca coisa.

LIVRE COMO UM PÁSSARO

Free as a bird era uma canção inacabada de Lennon, registrada em 1977 em uma fita caseira por um gravador colocado em cima do piano. A música era ainda como um rascunho, um teste, e coube aos outros três trabalhar no material, completando a faixa.

Com partes vocais solo de John, Paul e George, é um caso raro de divisão da voz principal entre os três. E consta que Ringo também junta sua voz no coro, fato pouco comum na discografia deles. Novos versos, pequenas mudanças em acordes e um arranjo instrumental rico e elaborado deram um tratamento digno à gravação, que teve a assinatura criativa dos quatro Beatles, gerando o único single composto desta maneira.

O trabalho foi acompanhado pelo produtor Jeff Lyne, o grande mago que conseguiu limpar o frágil som vindo da fita e organizar tudo para que a gravação soasse uniforme. Ainda assim, a voz de John soa um pouco distorcida e distante. O que não era problema nenhum, pois ele gostava de experimentar com distorções e efeitos na voz durante várias gravações. Na parte instrumental, além do piano original de John, Paul gravou mais partes de piano e também tocou baixo e violão. George contribui com violão, guitarra solo normal e slide. E Ringo, à frente da bateria completou a primeira gravação oficial dos Beatles, quase 25 anos depois da separação.

Emoldurada por um vídeo clip premiado que colava imagens alusivas à todas as fases e várias canções dos Fab Four, a música infelizmente não alcançou grande sucesso comercial. Não faltaram críticas de pessoas sobre o oportunismo da empreitada e sobre uma suposta inferioridade em relação aos clássicos dos anos 60.

Uma outra questão ainda pode ser levantada: teria John gostado de ver "Free as a bird" gravada? Ele mesmo não finalizou a música quando teve chance, nem cogitou gravá-la oficialmente. Ou ele teria, de algum modo, previsto que essa música só valeria a pena ser completada com uma pequena ajuda dos seus amigos? Sem respostas para tais perguntas, o trio ainda gravaria outra faixa, esta sim a derradeira canção da banda.

AMOR REAL

Diferente de "Free as a bird", a canção seguinte, que entrou no vol. 2 do CD Anthology, era uma obra completa de John, composta e gravada em sua casa em 1979. Coube aos outros encaixar uma instrumentação igualmente rica que ornasse bem a música "Real love", isso em 1995.

Paul e George gravaram harmonias vocais para enriquecer a canção, lembrando muito a combinação de vozes que os tornou célebres no passado.

Para o acompanhamento, Paul tocou dois baixos, sendo um deles o usado por Bill Black na histórica gravação de "Heartbreak Hotel", de Elvis Presley. Ringo novamente estava na bateria e George na guitarra. Dois violões, tocados por Paul e George, também foram acrescentados. E os três Beatles adicionaram vários efeitos percussivos sutis, finalizando a derradeira gravação oficial da banda. O resultado, como em "Free as a bird", dividiu opiniões.

Posteriormente, um clip feito a partir de colagens de todas as fases do grupo, incluindo tomadas feitas durante as gravações, fechou com chave de ouro o histórico de criações do grupo. O vídeo, com sua edição final mostrada no encerramento do disco bônus da DVD Box Anthology, funciona como uma despedida, um fecho digno e emocionante. Tudo o que sairia depois seriam coletâneas ou diferentes versões dos clássicos, como o Let it be... Naked.

REFLEXÕES CRIATIVAS

No documentário Anthology, Paul comenta que não foi tão divertido fazer "Real love", pois a música já estava completa e eles atuaram mais como um acompanhamento para John. Talvez Paul estivesse nostálgico de uma fase inicial dos Beatles, quando ele freqüentemente criava junto com o parceiro. Pela metade da década de 60, os dois amigos foram se distanciando e compondo cada vez menos juntos. Desde o começo, existiam músicas escritas por um ou pelo outro em separado, mas a parceria criativa era muito forte também. E, pelo acordo que eles firmaram, enquanto existissem os Beatles, todas as músicas seriam assinadas em dupla. Mas já não eram criações coletivas, exceto pelos arranjos. E não são poucos os exemplos de clássicos Beatles que são criações individuais.

"Across the Universe" sempre foi uma música solo de John, sem nenhum outro Beatle junto. Idem para "Yesterday", de Paul e "Within you without you", de George. Em muitos casos, os outros três (ou menos) eram realmente "apenas" um acompanhamento para o compositor/cantor da música. É assim em "The long and winding road", "Something", "For no one" e tantas outras.

Essa discussão sobre o quanto as músicas seriam "faixas Beatles genuínas" pode até ser pertinente, mas essas músicas não foram gravadas de modo tão diferente de tantos clássicos da fase áurea do quarteto. A criação, mesmo em "Real Love", foi coletiva se lembrarmos que os três remanescentes trabalharam o arranjo instrumental que emolduraria a música de John. O que é muito mais do que aconteceu em muitos sucessos que aprendemos a admirar.

Há depoimentos de fãs e pesquisadores colhidos na época que diziam que "não era a mesma coisa" comparar essas músicas "póstumas" com as gravações clássicas. Obviamente que saber que John estava morto há anos quando a música foi trabalhada para se tornar uma faixa Beatle faz uma grande diferença. Também influi toda a expectativa que se criou em torno dessa reunião. Nada iria corresponder à expectativa, por melhor que fosse. Friamente falando, muito do fascínio que os clássicos causam vem do fato do ineditismo na época de seu lançamento e de uma paixão que transcende técnica e até sensibilidade musical.

Essa nostalgia, claro, barraria qualquer obra-prima de ser reconhecida como tal, pelo simples fato de que os velhos hits ficam no mesmo patamar de pureza intocada e eternamente idealizada que nossas lembranças de infância, do primeiro amor, etc... Tudo que nos conquista profundamente em uma época mais ingênua tende a ofuscar novas expectativas.

Musicalmente falando, - e é isso o que importa - as duas canções foram uma pequena amostra do que os Fab Four poderiam estar produzindo se estivessem todos vivos, ou que teriam feito nos anos 70 (quando Lennon compôs as duas faixas) ou ainda nos anos 90 (quando elas foram finalizadas).

Eles estariam fazendo, certamente e como sempre, música de boa qualidade.

Por Alexandre Nagado