quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Montserrat, a ilha encantada de George Martin


Montserrat, nome dado por Cristóvão Colombo em 1493, em tributo ao Mosteiro de Santa Maria de Montserrat, em Barcelona (Espanha), é uma minúscula e longínqua ilhota, situada na confluência do Oceano Atlântico e do Mar das Caraíbas, ao leste das Antilhas (West Indies). A terra firme mais próxima é a Venezuela. Com apenas 102 Km2 e uns 11 mil habitantes, a ilha de Montserrat era tida como a "esmeralda das Caraíbas", destino turístico de abastados. Águas cristalinas, o verde como tapete da terra, vegetação luxuriante, língua inglesa (a ilha ainda é um  território dependente britânico), a maior concentração mundial de campos de golfe por metro quadrado, cascatas deslumbrantes, praias de areia fina e branca e águas tépidas faziam a delícia dos visitantes, ideal para cidadãos britânicos bem posicionados na vida.

 George Martin apaixonou-se pela ilha em 1977. Além da beleza, encontrou nela a paz de espírito suficiente para a criatividade da música. Escassos dois anos depois concluiu, num local idílico, os AIR Studios, os mais modernos e sofisticados de então. Pelos estúdios passaram dos maiores "monstros sagrados" da história do rock, como Paul McCartney, Rolling Stones, Eric Clapton, Dire Straits, Elton John, Stevie Wonder, Police, Ultravox, Lou Reed e tantos outros, que usufruíram das excelentes condições técnicas e ambientais para a produção de canções que ainda hoje perduram na memória. Os estúdios viraram uma atração turística e o maior produto de exportação da ilha, suplantando o algodão do tipo Sea Island. O povo não esqueceu e tratava-o, como ainda o trata hoje, por Saint George.

Mas o sonho coletivo de George Martin, dos músicos e do povo de Montserrat só durou 10 anos. Em 1989, o furacão Hugo destruiu parcialmente a ilha e com ela os estudios modelares, obrigando a sua deslocalização para Londres, onde permanece. Não foi esse o único desastre da ilha. Tivesse George Martin ficado e provavelmente não teria escapado às múltiplas erupções do vulcão Soufriére, o maior do mundo em atividade, que se iniciaram em 1995 e duram até hoje. A última grande ocorrência registrou-se em 12 de julho de 2006. Vistos do observatório vulcânico, os estúdios de George Martin são um soco no estômago. Situados na base to vulcão, não muito longe do que foi um espetacular campo de golfe e uma praia de areia branca, o complexo é um fantasma indesejado do passado.

"Ainda na semana passada, tudo isto era verde", dizia-me um guia, apontando para o manto cinzento que cobre os estúdios, do vulcão ao mar. "Tudo é muito triste". E não é para menos. A atividade do vulcão diminuiu para menos da metade a população da ilha, obrigada a fugir, destruiu a capital, Plymouth, e seu aeroporto, fechou ao mundo dois terços do seu território. Os estúdios de George Martin situam-se na zona interditada aos olhares. Só de longe se pode enxergar. A ilha tornou-se verde e cinzenta, coberta pelas cinzas das erupções, e os habitantes e turistas são obrigados a usar máscaras. Mas o povo de Montserrat não desiste de lutar pela chegada de novos Georges Martins. Ostenta orgulhosamente tshirts com os dizeres "I'm Proud Montserraneant", mas até o novo campo de futebol, ainda por concluir, a mais recente "jóia da coroa" da ilha, foi parcialmente destruído em junho.

Um dos que não desiste é George Martin. Empenha o seu nome e reputação na organização de eventos que possam devolver o sorriso aos rostos dos orgulhosos habitantes da ilha. Logo em 1989, imediatamente a seguir ao furacão, George Martin pôs de pé um álbum de solidariedade, After The Hurricane - Songs From Montserrat, com nomes e canções gravadas na ilha, das quais destaco "Fancy Man Blues" (Rolling Stones), Ebony and Evory (Paul McCartney e Stevie Wonder), "Why Worry" (Dire Straits), "Invisible Sun" (Police), "I Guess That's Why They Call It The Blues" (Elton John) e "New Moon On Monday" (Duran Duran). Em 1997, depois das erupções, reuniu no Royal Albert Hall, de Londres, um super-concerto com Paul McCartney, Mark Knopfler, Elton John, Sting e Eric Clapton, ex-clientes de Montserrat.

Todos os proveitos foram para a ilha. Mais recentemente, o antigo produtor dos Beatles leiloou, com a ajuda de Paul McCartney, 500 litografias de "Yesterday", angariando fundos para a construção de um Centro Cultural em Montserrat. A ilha de Montserrat está moribunda, mas ainda não está morta. Enquanto houver Georges Martins, o povo de Montserrat pode olhar para o futuro com algum otimismo. Mas não é tarefa fácil. Quase nada está de pé. Ainda hoje, mês e meio depois da minha primeira visita à ilha, ao consultar as minhas notas, os dedos das mãos ficaram cobertos por um pó finíssimo. É triste.

Por Luís Pinheiro de Almeida

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Entrevista: Aramis Barros, da banda Os Canibais

Além de atuar na garage band pioneira, Os Canibais, Aramis Barros também está investindo na criação do The Cavern Brasil.

Vocês iniciaram com um compacto com duas músicas dos Beatles. Você pode falar sobre a influência deles na sua vida?
Eu devo tudo na minha vida profissional aos Beatles. Nós entramos na música há cerca de 40 anos atrás por causa deles e seguimos trabalhando posteriormente nesta carreira.

Por volta de 63/64, a gente aqui ainda não sabia muito sobre o que já estava acontecendo na Europa. Nós já curtíamos rock e guitarras, mas os Beatles ainda estavam entrando nos EEUU e ainda não tínhamos acesso aos lançamentos europeus, que vinham através dos EEUU... Nós gostávamos da música instrumental dos Ventures, Shadows, Duane Eddy e aqui no Brasil: The Jet Blacks, The Jordans e The Clevers (Os Incríveis). Claro que já curtíamos Neil Sedaka, Paul Anka, Bill Haley, Chuck Berry, Little Richard, Elvis, April Stevens etc... mas aquilo pra nós já estava ficando meio “careta”, muito “lamê”...

Aí aparece uma reportagem no Globo de quatro caras que estavam arrebentando na Europa e invadindo os EEUU... foi a gota d'água! Nós vimos que uma banda alem de tocar guitarras, podia cantar, vocalizar, compor, vestir roupas mais interessantes, cabelos grandes, botas... foi tudo! “I Want To Hold Your Hand” pegou a minha geração pelos ouvidos, olhos, mente e coração! Durante aqueles anos, tocamos todos (todos mesmo!) sucessos dos Beatles. Era o Big Boy lançar na rádio Mundial e a gente gravar em cassete antes mesmo do disco ser lançado... Depois era aquela correria nas lojas!

Nunca mais me afastei da música desde então e carrego comigo o apuro técnico e musical que aprendemos ouvindo atentamente tudo o que eles lançavam, para poder tocar cada novo sucesso que aparecia. Como começamos a gravar os nossos próprios discos, acabei aprendendo os segredos das técnicas de gravação e produção artística, que nortearam minha carreira profissional.

O LP Sgt. Pepper está completando 40 anos. Você se lembra de como o descobriu o qual a sua impressão sobre ele?
Veja bem: nós não podemos dizer que “descobrimos” este LP, porque nós simplesmente vivemos cada lançamento dêles. Mas a coisa era bem mais lenta do que hoje.
Primeiro correu o boato que eles iam acabar. Mais tarde a notícia era de que eles estavam insatisfeitos com os equipamentos de palco que já não atendiam os seus shows devido à grande quantidade de fãs que gritavam o tempo todo abafando tudo o que eles tocavam ou falavam. Ainda nesta época corria o boato também da morte do Paul.

De repente o Big Boy, que tinha um dia que era só de Beatles, acaba mostrando alguma coisa. Se não me engano “Sgt Peppers” e “With a Little Help From My Friends”. QUE QUE É ISSO??? E a gente nem tinha visto ainda o trabalho de arte da capa.

Claro que quando o LP chegou às lojas, eu fui um dos primeiros a comprar. Eu lembro que uma vez nos bastidores da TV Rio, antes do programa “A Festa do Bolinha” do Jair de Taumaturgo, durante os ensaios, Os Canibais e The Sunshines conversamos muito sobre o disco e ficamos ali curtindo tudo o que já estávamos tocando do Sgt Peppers. Detalhe: nesta época não tínhamos condições técnicas nem recursos para tocar com autenticidade algumas músicas deste disco. Mas tocávamos assim mesmo! Melotron, cordas e metais viravam órgão. E a gente se virava como podia para reproduzir aqueles sons de guitarras. Mal sabíamos nós que a intenção era essa mesma. Eles fizeram um disco que nem eles mesmos poderiam tocar ao vivo.

Outro detalhe interessante (alem da novidade das letras na arte e a magnífica foto da capa) foi o acirramento dos boatos a respeito do Paul com ele de costas no centro da capa e um trecho de gravação que foi colocado no final do lado B, próximo à etiqueta do disco que só tocava um pouquinho antes de o braço do toca discos levantar. Para ouvir, você tinha que desarmar o automático, colocar a”pick-up” em cima do trechinho e rodar manualmente o disco ao contrário! A gente ouvia qualquer coisa que parecia dizer que o Paul já estava morto.

Como pintou a idéia de criar uma filial do Cavern Club no Brasil?
Eu não criei esta filial. Na verdade eu fui convidado a participar como sócio do lançamento do RIO ROCK & BLUES CLUB no centro da cidade ainda no final do ano passado. Mas para a minha surpresa e satisfação, mais tarde o Dr. Carlos Chaves que é o detentor dos diretos da marca no Brasil, se juntou ao grupo com esta proposta de abrir o Cavern também.

Recentemente você anunciou um adiamento da inauguração do Cavern Club, talvez até mudança de endereço. Algum problema específico?
Por enquanto o Cavern ainda não muda de endereço. Devido a problemas com o projeto de adaptação do espaço e de gestão administrativa, acabamos demorando mais do que prevíamos para abrir agora. Nós estaremos iniciando as obras possivelmente na próxima semana e pretendemos inaugurar o Rio Rock em agosto. Se a obra for aprovada também pelo Cavern mantemos o projeto inicial, mas se não houver consenso, abrimos em outro local.

Além do nome "Cavern Club", que outras características dos anos 60 essa casa vai ter? Existe alguma decoração especial?
A casa não vai ter só uma característica de anos 60. Assim como o Cavern original, que revelou os Beatles e tantas outras bandas, nós pretendemos implementar um projeto de Escola do Rock e concursos de bandas de pop-rock e blues da nova geração também. Assim como já era a característica do Rio Rock na sua antiga sede da Barra da Tijuca. Também vamos oferecer palestras sobre o mundo do rock, exibições de vídeos e exposições da artistas plásticos sempre sobre o assunto pop-rock e blues de todas as gerações. A decoração reproduz as paredes de tijolos do Cavern original e o espaço será temático, com imagens, documentos, instrumentos, etc. (tipo Hard Rock).

Os Canibais sempre tiveram um som mais underground, mais roqueiro, do que a maioria dos artistas da Jovem Guarda. Você a considera como uma "banda da Jovem Guarda"?
Realmente nós vivemos um universo quase que paralelo à Jovem Guarda. Assim como Os Canibais, a Bolha, Sunshines, B. Bitles, Baobás, Beatnicks, Os Aranhas, Os Santos etc... se apresentavam nos programas da Jovem Guarda que eram os meios que tínhamos para chegar ao nosso público, mas nós não ficávamos presos a este esquema. Tanto nas TVs quanto ao vivo, a gente sempre acabava tocando o que gostávamos e que a nossa geração mais curtia. Ao vivo então, nos palcos dos clubes e casas de show o “buraco” era mais embaixo. Até inclusive realizamos o trabalho do BANGO em 70, que saiu completamente dos arranjos e melodias açucaradas da época.

Depois de muitos anos, os Canibais voltaram e estão mais ativos do que nunca. Qual a influência da Internet, principalmente do Orkut nisso?
Bem, nós fizemos um lançamento quase que caseiro. Não usamos de nenhum recurso de “marketing” das majors para a nossa divulgação e por isso o Orkut e a Internet tem sido de grande ajuda sim. Esta semana inclusive consegui abrir o nosso site: www.oscanibais.com.br Tem tudo lá: história, release, discografia, fotos, contatos...

Além dos Canibais (claro!), que outros artistas deverão se apresentar no espaço? Você tem uma agenda de eventos idealizada?
Ainda não existe uma previsão da agenda. Mas com certeza os covers dos Beatles e anos 60 de maneira geral, artistas e bandas novas com repertório próprio...

Além dos músicos dos Canibais, vocês sempre foram ligados à indústria fonográfica e às gravadoras. Como você analisa o avanço da pirataria? O que fazer para combatê-la?
É... não tomaram os devidos cuidados no início e agora não tem muito o que fazer. Se você pensar que tem de tudo pirata (remédios, ônibus, artigos eletrônicos, roupas, tênis, sapatos, gasolina...), fica realmente difícil de ser ver alguma luz no fim do túnel. As condições socioeconômicas da população aliadas aos preços exorbitantes de alguns lançamentos acabaram por disseminar esta cultura de não precisar comprar um CD, muitas vezes por causa de apenas um sucesso. Pode ser que no futuro haja uma volta ao princípio, quando o artista não lançava um Lp inteiro logo. Eram lançados vários compactos simples com apenas duas músicas, que eram divulgados um de cada vez durante certo período e só depois se juntavam estes lançamentos num único LP. Pode ser um caminho divulgar uma música na Internet através dos sites, até justificar o download de truetones ou posteriormente o lançamento do CD cheio.

Como está sendo aceito o disco novo, "A máquina do tempo"? Quais os planos para o futuro dos Canibais?
Temos um carinho muito especial com este trabalho porque ele significa não só a nossa volta, como também a confirmação de um longo caminho de uma grande amizade entre todos nós. O Cd tem sido muito bem aceito e temos recebido altos elogios, não só de radialistas e críticos como também do público de várias gerações. Tem sempre aquela sensação de surpresa pela jovialidade que conseguimos imprimir às nossas interpretações. Acho que conseguimos verdadeiramente a essência da idéia de “Vintage”, que foi reproduzir algo de 40 anos atrás com uma sonoridade convincente para os nossos dias. Apesar da originalidade dos arranjos mais atuais, não deixamos escapar o “clima” da nossa época. Agora nossos planos estão mais ousados. Temos várias composições prontas e planos de regravações de alguns sucessos de outras bandas nacionais que marcaram época.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A Northern Songs

Pouco se sabe sobre os direitos autorais das músicas dos Beatles. Esclareça a maioria das suas dúvidas sobre os verdadeiros proprietários das músicas criadas pelos Beatles.

Esta matéria é baseada em documentos oficiais coletados em cartórios e por outras fontes ligadas ao assunto. É importante ressaltar que se trata apenas de uma pesquisa histórica e para realizá-la foi deixado de lado todas as fábulas cridas através do tempo sobre os assuntos abordados nessa matéria. Por se tratar de um assunto extremante polêmico entre os fãs dos Beatles e com muita pouca coisa escrita sobre o assunto da Criação da Editora das músicas dos Beatles e da sua posterior compra (incluindo os direitos autorais das músicas dos Beatles).

Nota: As fontes usadas para a formação desse artigo são idôneas e conseguidas de forma totalmente legal.


Visão Geral

Nome legal: Northerm Songs Ltd.
Escritório central até 1985: Londres, Inglaterra. Hoje localizado em Nassau, nas Bahamas.
Capital até 1985: Aberto (A empresa emite ações para sócios).
Hoje: Fechado (Devido a centralização da maioria do seu capital, cerca de 70%, na mão de um único dono)


Era Beatles

Criada em fevereiro 1963 com os diretores Brian Epstein e Dick James, a Northern tinha um capital de inicial de cem libras em ações de uma libra cada. Estas ações foram divididas em partes. 49 delas sendo de Dick James, 20 de Lennon, 20 de McCartney e os 11 restantes pertenciam às empresas NEMS. A companhia foi reestruturada antes de fevereiro 1965. Depois disso Lennon e McCartney recebiam cada um £ 94.270 por ação e perdendo 15% delas. Os 15% restantes foram vendidos na bolsa de valores. A empresa assim se tornou de capital aberto e durante a reestruturação, as ações tinham um valor de 7.500.000 em 2% do valor de face. Isto deu à companhia um valor de 2.718.750 libras.

Então o controle da empresa era o seguinte: John e Paul tinham 15%, Dick James com 7%, sua família com 15%, Emmanuel Charles, presidente da Northerm com 15%, as empresas NEMS com 7% e George e Ringo com apenas 1,6% das ações (o restante de sócios minoritários). Esse arranjo se manteve até 1973. Dick James sempre ganhava 10% sobre a renda bruta da empresa como taxa de gerência.

Foram criadas empresas filiais para administrar os direitos autorais aonde a lei era diferente da lei do Reino Unido, com contratos exclusivos entre a Maclen Music Ltd. (Empresa que representava os Beatles legalmente) e as "filiais" da Northerm. Isso ocorria em certos países como EUA, Canadá, México e Filipinas. Havia também outros contratos com companhias na França e Austrália. O núcleo do relacionamento entre Maclen e o a Northerm é o fato que a Maclen atribuiu o copyright das canções à Northern, que retornava os pagamentos dos royalties. John e Paul recebiam os direitos, mas eles não mantiveram o controle sobre as ações. O que provocou a perda total do controle da empresa e também dos direitos autorais sobre as músicas da mesma.

Quando Allen Klein assumiu os negócios dos Beatles, Dick James vendeu suas ações para Lew Classe e a ATV Music por 35% do valor de face. Quando a oferta foi feita, Dick James visitou Lennon e McCartney na casa de Paul para explicar sua situação. Ambos ficaram irritados com o fato e consideravam o negocio um absurdo, então os dois ofertaram um valor alto oferecido pela a Northerm que era de 42/6d por ação. Mais os investidores majoritários preferiam o negócio com a ATV. Quando foi realizado o negocio, John prendeu 650.000 ações, e Paul prendeu 750.000 [a diferença ficou com Cynthia por causa do seu divorcio com o John. John e Paul obtiveram um lucro líquido de mais de 1.000.000 de libras do negócio].

Embora a imprensa divulgasse que este era o fim do controle de Beatles sobre suas próprias canções, tem-se que recordar que a Northerm era nada mais do que o arrecadador para a Maclen, que continuaria a fornecer aos Beatles uma renda sobre as suas canções.

Durante os anos, havia um número de disputas e de ações judiciais que envolvem ATV e o Beatles. Entretanto, os dois tentaram estabelecer um relacionamento, até certo ponto que Lennon e McCartney assinaram contratos de solo com a ATV através de suas companhias respectivas. Com isso eles obtiveram o controle sobre a ATV, que se transformou em uma subsidiária da Associated Communications Corporation, que era própria o assunto de uma batalha que já estava na última instância. Mudando o controle da ATV para Robert Holmes A'Court, que vendeu então a ATV a Michael Jackson.

Os originais da época mostram que Jackson arranjou um empréstimo de $30.000.000 USD do Chemical Bank para facilitar a compra antes de transferir a Northerm para Nassau nos Bahamas (Local conhecido até hoje como um paraíso fiscal), onde dois banqueiros facilitaram a transferência. O grupo inteiro da ATV foi comprado. Não há nenhuma documentação que mostra o valor total pago, embora os relatórios de imprensa indiquem que foram 34.000.000 libras.

Os anuários aos clientes da companhia arquivados nos anos antes do takeover de Jackson dão o balanço anual dos lucros da Northerm Songs Ltd.:

1978. £ 2,637,161.
1979. £ 2,953,206.
1980. £ 2,305,089.
1981. £ 2,278,017.
1982. £ 2,920,039.
1983. £ 3,358,455.
1984. £ 2,081,833.
1985. £ 942,010.

No período antes da compra de Michael Jackson a Northerm Songs Ltd., não explicava de onde vinha a sua renda. Isto não acontecia quando a Northerm era meramente uma subsidiária da ATV. Os dados abaixo se referem apenas o que era recolhido pela as músicas dos Beatles no período de quinze meses até 30/06/83.

UK Mechanical. £ 647,886.
UK Performance. £ 199,901.
UK Lyric. £ 1,144.
UK Sheet Music. £ 176,028.

Mechanical relaciona-se à renda das companhias BRITÂNICAS da gravação, para gravações de Beatles das canções escritas por membros do grupo, ou de versões de outros artistas. O Performace relaciona-se a pagamentos feitos apenas pela execução das músicas. Os Beatles são incapazes de resolver o caso devido à complexidade do caso.

O ponto chave aqui é que os Beatles atribuíram seus direitos de publicação a Northern Songs. Assim eles ganhavam 90% de tudo que era arrecadado.

Quando, Jackson comprou a Northern acabou adquirido a maioria dos direitos de publicação das canções do Beatles. Fora quatro canções dos dois primeiros discos da banda. Que foram publicadas antes da formação de Northern. Essas canções hoje pertencem a MPL de McCartney.

As canções de George Harrison e do Ringo Starr também estão fora do controle da Northern Songs, porque o contrato de ambos com a Northern expirou em 1968. E Não foi renovado por divergências nas negociações.


Era pós Beatles

Desde a compra, Jackson embolsa grande parte dos lucros e se recusa a vendê-los de volta. Há diversas ações na justiça sobre esse caso. Apesar de que não se tem mais acesso a como se encontra a real situação da empresa.

Devo mencionar que a Sony Corp. Teria pagado a Michael Jackson $95 milhões em 1995 para fundir ATV com a Sony. Da fusão resultou a Sony/ATV que controlava Northern até o inicio de 2004.

Em janeiro desse ano Jackson teve que vender mais uma pequena parte a Sony. Para ostentar "seu modo de vida excêntrico" (foi publicado nessas palavras em diversas fontes na imprensa). Assim se chega à conclusão que a gravadora Sony detem mais da metade dos direitos autorais das músicas dos Beatles.

Os preços cobrados pelas canções são extremamente abusivos. O que leva a um segundo ponto chave na questão. A visão do capitalista explorador que é tido como o "dono" da empresa. Embora os donos da Northern recebem os royalties gerados por canções dos Beatles em virtude de sua posse dos direitos autorais, Paul McCartney e John Lennon recebem sempre à parte de compositores que é 50% dos royalties para todas as canções de Lennon-McCartney.

A empresa dos Beatles conhecida como Apple Records controla os direitos de imagem e também a venda de material promocional da banda, o que gera mais dinheiro com o nome "The Beatles". No caso das gravações elas pertencem a EMI, que também paga aos Beatles pela execução das músicas.

Desde da época da compra a Northerm a forma de administração da empresa é bem interessante financeiramente para Jackson. Por exemplo, quando Paul fez a sua excursão em 1989 ele queria imprimir as letras de músicas como "Eleanor Rigby" no roteiro dos shows. Descobriu que teria que pagar uma taxa a Michael Jackson, porque ele era o proprietário dos direitos de publicação e execução.


O que a Northern não pode fazer

Há umas coisas que a Northerm pode e não pode fazer de maneira alguma. Ela não pode interferir no lançamento de CDs ou regravações feitas nos EUA. Isso tem a ver com as licenças de gravação dos Beatles. Há um caso bem interessante, onde Michael Jackson concordou em licenciar letra da música "Revolution" para um comercial da Nike em 1987, mas a Capitol não permitiu que a gravação original fosse utilizada.

Uma outra coisa que a editora não pode fazer (nos ESTADOS UNIDOS, ao menos) é impedir que alguém grave uma versão de alguma música que ela possui. A única função da editora é controlar os royalties pela regravação. Entretanto, se as negociações falharem, a lei dos EUA permite que o artista introduza a gravação no mercado, pagando um royalty estipulado (geralmente bem alto quando o assunto é Beatles) à editora. O que mostra que a Northerm não tem total controle sobre as músicas do seu catálogo.


Conclusão

O processo de dissolução e de compra da ATV está sendo contestado na justiça Britânica. Ele está sendo movido por as empresas que eram a holding da ATV antes de 1985. Este processo ocorre sobre regime de segredo de justiça. E poderá definir o futuro da Northerm, pois se for decidido que a compra se deu de forma fraudulenta a empresa volta a pertencer aos antigos acionistas.

Não existe um culpado sobre o a situação tão complicada dos direitos autorais das músicas dos Beatles. O que houve foram erros consecutivos na administração deles. E um oportunismo cometido por um dos controladores dos direitos autorais.

No meio disso tudo quem sempre leva a pior são os fãs dos Beatles, pois eles ficam como reféns do jogo capitalista que envolve toda a confusão causada pelo caso. E como sabemos a ética é uma palavra que não existe quando falamos em dinheiro. E de algo que rende milhões por ano totalmente sem transparência ou fiscalização de órgãos competentes para o assunto.

Por Marcos Augusto Fernandes