O Beatle George Harrison esteve no Brasil em 1979, com o objetivo de ver o GP de Fórmula 1, no autódromo de Interlagos. A jornalista Claudia Antunes viu e falou com o George. Ela nos conta essa história em um emocionante depoimento.
George, acuado pelos fotógrafos brasileiros Não me recordo exatamente em que dia de 1979 aconteceu o encontro com George Harrison, pois sou jornalista há 35 anos e já entrevistei personalidades incríveis. A que mais me tocou foi Madre Tereza de Calcutá. Peguei em suas mãos calejadas e um tanto mal-tratadas (unhas, principalmente) e as beijei. Ela sorriu para mim com a alma e me despedi aos prantos.
Só me lembro que fui incumbida de cobrir o lado "fashion" de uma corrida de Fórmula I em São Paulo. Eu deveria entrevistar as mulheres dos pilotos, que em sua maioria são lindas e se vestem de uma maneira bastante peculiar. Fiz a matéria e, de repente, vi o Emerson Fittipaldi com George. Olhei de novo, pois ele estava de óculos e podia ser alguém parecido.
Como eu estava com uma credencial enorme do jornal "O Estado de S. Paulo", as portas se abriam sem problemas. Vale dizer que eu sempre trabalhei na sucursal Rio e a matéria me deslocou para São Paulo como enviada especial. Me aproximei, falei com Emerson (que estava ao lado de George) que já tinha entrevistado sua mulher e ele puxou assunto sobre a pauta.
Brincou comigo, dizendo que ele era mais importante na corrida do que a mulher e eu lhe disse que seu uniforme não era nada fashion. Foi aí que George fez cara de quem queria entender o que falávamos e o Emerson repetiu em inglês nossa conversa. George riu e eu lhe dei um "hello" simpático, ao qual ele retribuiu. Não faço gênero de tietar entrevistados. Isso é pessoal. Glória Maria, da TV Globo, se desmanchou com Mick Jagger e com Michael Jackson. Como dizemos no meio, perdeu a classe.
George dá uma volta por Interlagos Dei tchau para o Emerson, que ainda repetiu que o uniforme de Fórmula 1 era algo que só a Fórmula 1 usava e, portanto, era bastante fashion. Ao que eu falei que faltava uma certa originalidade, pois todos os pilotos se vestiam da mesma forma. Dei bye-bye para George, ele respondeu com aquele seu sorriso enorme. Fiquei muito emocionada, mas na minha. Foi só isso.
Depois de sua partida da Terra para um lugar onde ele deve estar até lendo esse texto, fiz uma homenagem a ele, através de um cachorro que achei numa praça do Leblon, no Rio, onde moro. O cachorro se chama Dhani. É um vira-latas, não pegava bem chamá-lo de George. Dhani vai ser operado na quinta-feira. Tem um sarcoma (tipo de câncer) no úmero (equivalente ao ombro dos humanos). Me ama incondicionalmente e assimilou seu nome em dois dias.
Mando beijos a todos os beatlemaníacos e desejo que 2005 seja o ano da Paz, do Amor, da Solidariedade e da Saúde!
Por Claudia Antunes
OBSERVAÇÃO:O Grande Prêmio do Brasil foi no dia 04 de Fevereiro de 1979 e o seu vencedor Jacques Laffite. George esteve presente nos treinos - no dia anterior - e na própria corrida.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2002
Emerson Fittipaldi fala sobre o amigo George
O ex-piloto Emerson Fittipaldi, um dos maiores do automobilismo mundial em todos os tempos, lançou no ano passado o livro "Uma Vida em Alta Velocidade", onde conta suas memórias. Como todos sabem, Emerson foi amigo fiel do ex-beatle George Harrison, que era fanático por corridas, em especial de Fórmula 1.
Vários exemplos podem ser citados dessa paixão, mas vale destacar o pôster da McLaren de Ayrton Senna que aparece durante as cenas de entrevista do disco 5 dos DVD Anthology. Além, é claro, da versão que George fez durante uma entrevista para a TV para Here Comes the Sun, ao violão, alterando a letra e dizendo Emerson várias vezes. Entre outras tantas.
Beatles: "os meus preferidos"
Em duas passagens de seu livro, Émerson comenta sobre os Beatles e George Harrison. A primeira é assim: ano de 1968: "Dirigi o caminhão levando o carro de Wimbledon para Roma, com Chico Rosa a meu lado. Eu tinha instalado na cabine um toca-fitas e comprado uma pilha de fitas cassetes para escutarmos rock and roll durante toda a viagem, a maioria delas com músicas dos Beatles, que eram de longe os meus preferidos".
George: "identificação imediata"A segunda passagem é bastante curiosa: "Naquela prova (Corrida dos Campeões em Brands Hatch) conheci um de meus maiores amigos de todos os tempos. Estava no boxe antes da largada e, quando vi aquele cabeludo se aproximando, não acreditei. Era George Harrison. Eu era fã dos Beatles e descobri que ele era louco por automobilismo. Tinha vindo me cumprimentar e desejar boa sorte. Trocamos telefones e desde então, sempre que eu ia à Inglaterra, telefonava para ele. Sentimos uma identificação imediata e muito profunda um com o outro, conversávamos durante horas e nunca faltava assunto. Ele morava num castelo gigantesco na Inglaterra, um antigo mosteiro franciscano com cinco andares e mais de 100 quartos. Era um absurdo de grande.
Uma vez fui visitá-lo com meus filhos Jayson, Tatiana e Joana. George me instalou num quarto com Jayson, e as meninas no quarto ao lado. As paredes eram de madeira escura e tudo era muito antigo, sinistro, tenebroso. Quando fomos dormir, em menos de meia hora as meninas já estavam batendo na porta do meu quarto.
- Pai, a gente está com medo....
Dormimos todos juntos, apertados na mesma cama."
Emerson mostrou-se um amigo verdadeiro de George até seus últimos momentos de vida, tendo ido visitá-lo na clínica que George fazia tratamento na Suíça. Essa amizade pode ser considerada como o motivo de Émerson não comentar praticamente nada sobre seu relacionamento com ele. Isso mostra sua consideração para com o músico que sempre gostou de ter sua intimidade preservada.
Vários exemplos podem ser citados dessa paixão, mas vale destacar o pôster da McLaren de Ayrton Senna que aparece durante as cenas de entrevista do disco 5 dos DVD Anthology. Além, é claro, da versão que George fez durante uma entrevista para a TV para Here Comes the Sun, ao violão, alterando a letra e dizendo Emerson várias vezes. Entre outras tantas.
Beatles: "os meus preferidos"
Em duas passagens de seu livro, Émerson comenta sobre os Beatles e George Harrison. A primeira é assim: ano de 1968: "Dirigi o caminhão levando o carro de Wimbledon para Roma, com Chico Rosa a meu lado. Eu tinha instalado na cabine um toca-fitas e comprado uma pilha de fitas cassetes para escutarmos rock and roll durante toda a viagem, a maioria delas com músicas dos Beatles, que eram de longe os meus preferidos".
George: "identificação imediata"A segunda passagem é bastante curiosa: "Naquela prova (Corrida dos Campeões em Brands Hatch) conheci um de meus maiores amigos de todos os tempos. Estava no boxe antes da largada e, quando vi aquele cabeludo se aproximando, não acreditei. Era George Harrison. Eu era fã dos Beatles e descobri que ele era louco por automobilismo. Tinha vindo me cumprimentar e desejar boa sorte. Trocamos telefones e desde então, sempre que eu ia à Inglaterra, telefonava para ele. Sentimos uma identificação imediata e muito profunda um com o outro, conversávamos durante horas e nunca faltava assunto. Ele morava num castelo gigantesco na Inglaterra, um antigo mosteiro franciscano com cinco andares e mais de 100 quartos. Era um absurdo de grande.
Uma vez fui visitá-lo com meus filhos Jayson, Tatiana e Joana. George me instalou num quarto com Jayson, e as meninas no quarto ao lado. As paredes eram de madeira escura e tudo era muito antigo, sinistro, tenebroso. Quando fomos dormir, em menos de meia hora as meninas já estavam batendo na porta do meu quarto.
- Pai, a gente está com medo....
Dormimos todos juntos, apertados na mesma cama."
Emerson mostrou-se um amigo verdadeiro de George até seus últimos momentos de vida, tendo ido visitá-lo na clínica que George fazia tratamento na Suíça. Essa amizade pode ser considerada como o motivo de Émerson não comentar praticamente nada sobre seu relacionamento com ele. Isso mostra sua consideração para com o músico que sempre gostou de ter sua intimidade preservada.